Jornal Escolar | Ano Letivo 2021/2022
O esquilo-vermelho
#Literacia científica
O esquilo-vermelho regressou a Portugal. Mas estará livre de perigo?
O esquilo-vermelho pertence à espécie Sciurus vulgaris e está de volta a Portugal, depois de ter estado extinto durante alguns séculos.
Terá desaparecido do país no século XVI, provavelmente devido à desflorestação que foi ocorrendo para criar espaço para a agricultura e pecuária e, sobretudo, para construir os navios dos Descobrimentos portugueses, tendo levado à fragmentação de muitos habitats.
Na década de 1980, começaram a ser avistados no parque Natural da Peneda Gerês, vindos da Galiza. Na década seguinte, foram introduzidos em parques do Porto, de Coimbra e de Lisboa. O repovoamento do esquilo-vermelho foi notável.
No verão e no outono, o esquilo-vermelho passa grande parte do tempo a acumular comida, principalmente pinhões e também diversos tipos de nozes, bolotas e castanhas. Esta aparente obsessão tem como propósito garantir que tem alimento disponível nos meses de inverno. Os esquilos prestam um serviço importante na recuperação da floresta, pois algumas sementes ficam esquecidas e acabam por germinar.
Se em Portugal a espécie está em recuperação, no Reino Unido e em certas regiões de Itália está em declínio. Isto deve-se à introdução descuidada, nestes dois países, do esquilo-cinzento, da espécie Sciurus carolinensis, nativo do leste da América do Norte.
O esquilo-cinzento é maior, mas não é essa a sua vantagem na competição com o esquilo-vermelho. O esquilo-cinzento é portador de um vírus, ao qual parece estar imune, mas esse vírus é muitas vezes mortal para o esquilo-vermelho. Ao longo de muitos anos, a virose tem causado o declínio acentuado de populações de esquilo-vermelho.
Em Inglaterra, a introdução recente de um predador de esquilos – as martas – parece ser a razão para o reaparecimento do esquilo-vermelho. Julga-se que as martas mostram preferência alimentar pelos esquilos-cinzentos.
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Há mais de 73 mil espécies de árvores no mundo
#Biodiversidade
Foi publicada a primeira estimativa científica sobre o número e riqueza de espécies de árvores a nível global, que inclui as já descobertas e aquelas que estão ainda por descobrir.
73.000 é a estimativa de um grupo de mais de 100 cientistas para o número de espécies de árvores que existem no mundo. Contudo, só cerca de 64 mil foram observadas, o que significa que ainda estão por descobrir mais de 9.000 espécies. Estes valores foram apresentados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Quantas espécies de árvores existem exatamente no planeta? Responder a esta pergunta não é uma tarefa fácil. A “contagem” dos subgrupos que diferenciam as árvores umas das outras enfrenta desafios financeiros, taxonómicos, logísticos ou até ao nível das diferenças na cobertura geográfica.
A equipa calculou que a Terra tenha aproximadamente 73.300 espécies de árvores. Isto significa que cerca de 9200 espécies ainda estão por descobrir. No artigo científico, destaca-se ainda que quase um terço da riqueza total das árvores na Terra é composta por espécies raras, o que mostra a vulnerabilidade desta biodiversidade às pressões antropogénicas (causadas pelo humano), como a desflorestação.
Cerca de 43% (aproximadamente 31 mil) de todas as espécies de árvores da Terra estão na América do Sul. Esta diversidade é sobretudo encontrada em florestas tropicais, matagais ou savanas, maioritariamente na Amazónia e nos Andes. Na América do Sul, haverá quase 4000 espécies por identificar e o maior número de espécies raras do planeta – são cerca de 8200. Muitas das árvores são endémicas desta área.
Estudos como este podem ajudar a estimular a conservação da biodiversidade. Um maior conhecimento da riqueza das árvores e da sua diversidade é a chave para preservar a estabilidade e a funcionalidade dos ecossistemas.
Fontes: PÚBLICO / Ilustração: Katia Gaigalova
Os peixes dourados ficam “bêbados” para sobreviver ao inverno
#Literacia científica
O peixe dourado, da espécie Carassius auratus auratus, é um peixe de água doce e um dos peixes de aquário mais populares.
Para a maioria dos animais – inclusivamente os seres humanos – a falta de oxigénio é fatal em questão de minutos. Embora possamos metabolizar hidratos de carbono sem oxigénio, esse processo produz ácido láctico, que se acumula rapidamente no corpo.
Mas o peixinho dourado – um dos peixes de aquário mais comuns – e a carpa são capazes de sobreviver por até cinco meses sem oxigénio nas lagoas e lagos gelados do norte da Europa. E agora, os pesquisadores descobriram como o conseguem fazer.
Na maioria dos animais, há um tipo de proteína que transporta os hidratos de carbono para a mitocôndria, que gera energia para as células. Na ausência de oxigénio, o consumo de hidratos de carbono gera ácido láctico, do qual os peixes não conseguem livrar-se – e que pode matá-los rapidamente.
Mas as carpas e os peixinhos dourados têm um segundo conjunto de enzimas que, no momento em que os níveis de oxigénio caem, transformam os hidratos de carbono em álcool, que pode ser libertado facilmente por meio das suas brânquias, os órgãos de respiração dos peixes.
«Essa segunda via só é ativada na falta de oxigénio», explica Michael Berenbrink, cientista da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, e membro da equipa de pesquisa. «A camada de gelo na superfície dos lagos separa-os do ar. Por isso, quando o lago está coberto de gelo, o peixe consome todo o oxigénio e depois passa a produzir álcool.»
Quanto mais tempo estes peixes ficam debaixo do gelo e sem ar, maiores são os níveis de álcool no seu corpo. Se medirmos os níveis quando eles estão no lago, o álcool no sangue dos peixes supera 50 mg por 100 mililitros, acima do nível permitido para conduzir em Portugal, que é de 0,5 g por litro.
«Assim, podemos dizer que eles estão realmente sob efeito de álcool, ‘bêbados’», diz o cientista.
Mas mesmo que os peixes estejam repletos de álcool, não é isso que provoca a sua morte. Se o inverno for muito prolongado, eles consomem toda a energia que têm acumulada no fígado e morrem.
Segundo os investigadores, é possível tirar algumas lições importantes da adaptação evolutiva que produz este conjunto duplicado de genes, que permitiu a estas duas espécies manter o funcionamento original do organismo, mas também ter um “plano B” para conseguir energia.
«A produção de etanol permite que a carpa, por exemplo, seja a única espécie que sobrevive e explora ambientes hostis. Isso evita também a competição e a ameaça de outras espécies de peixes que normalmente interagem com ela em águas com melhor oxigenação», diz Cathrine Elisabeth Fagemes, da Universidade de Oslo, na Noruega, autora principal do estudo.
«Por isso, não é estranho que o primo da carpa, o peixinho dourado, seja um dos animais de estimação mais resilientes que os humanos podem ter», acrescenta Fagemes.
Os cientistas calcularam ainda – embora apenas por diversão – quanto tempo seria necessário para produzir uma bebida alcoólica a partir das secreções de um destes bravos peixinhos.
«Se colocarmos um peixinho num copo de cerveja e o taparmos, ele levaria 200 dias para atingir um nível de álcool de 4%», diz Berenbrink.
GLOSSÁRIO
Ácido láctico:
Composto orgânico de função mista ácido carboxílico‒álcool. Participa
em vários processos bioquímicos. Foi descoberto no leite coalhado pelo
químico sueco Carl Wilhelm Scheele.
Mitocôndria:
Organito citoplasmático, com a forma de grão, existente em todas as
células vegetais ou animais, e que desempenha uma função importante nos
fenómenos de respiração e nas reações energéticas da célula.
Resilientes:
Capazes de se defenderem e recuperarem perante fatores ou condições
adversos.
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Vespa velutina chegou ao Minho há dez anos
#Literacia científica
Apicultores já exterminaram “largos milhares”. Colmeias cada vez mais ameaçadas.
A vespa velutina (asiática) chegou acidentalmente à Europa em 2004, a um porto francês, dentro de um contentor carregado com fruta. Esta espécie invasora foi confirmada pela primeira vez em Portugal, em setembro de 2011, por entomólogos e apicultores, no Minho e em Viana do Castelo, por onde terá entrado via Galiza.
As vespas adaptaram-se e foram conquistando território, principalmente terreno rural.
O investigador José Silva e o apicultor Miguel Maia confirmaram que, a partir de Viana do Castelo, os núcleos se expandiram para o noroeste e centro de Portugal e, este ano, já colonizavam, com sucesso, grande parte de Portugal e do sul do continente europeu.
Um grupo de apicultores de Vila Verde apanhou um número elevado de vespas velutinas com recurso a armadilhas artesanais, ao longo dos últimos meses, evitando não só a propagação de novos ninhos como também de eventuais ataques a colmeias ou pessoas.
“Podemos dizer que ao matarmos uma vespa, estamos a matar milhares, porque se eliminarmos uma vespa fundadora, é menos um ninho que vai aparecer”, explica um apicultor de Vila Verde, revelando a ‘caçada’ de apenas algumas semanas.
A acompanhar o estabelecimento da espécie, os apicultores acharam oportuno fazer algo mais para travar grupos que exterminam enxames de abelhas em poucas horas. Daí, para além da eliminação de ninhos, apostaram na prevenção, com a colocação de armadilhas na altura da construção dos vespeiros, quer dos primários (onde uma rainha começa a construir um pequeno enxame), quer dos secundários (que podem comportar dezenas de milhares de soldados).
As vespas asiáticas são atraídas por uma mistura, o chamado “atrativo” constituído por vinho branco, groselha e cerveja preta na primavera e água, açúcar e fermento de padeiro durante o verão e o outono. Este “atrativo” é o chamativo para a espécie invasora. As vespas acabam aprisionadas dentro de uma garrafa de plástico.
Felizmente, para a comunidade melífera (abelhas que produzem mel), nenhuma destas guloseimas supera o apetite das predadoras das abelhas.
Mas nem só com armadilhas se defende os apiários. A imaginação anda à solta quando a ordem é destruir ninhos vespeiros e houve quem utilizasse um drone que transportava uma cana com um pano embebido com inseticida para perfurar estas colónias.
Outras abordagens, mais tradicionais, passam pela incineração, que ocorre habitualmente à noite, altura em que é possível encontrar o maior número de vespas no interior do vespeiro. Tem sido a prática mais utilizada pela proteção civil, mas a opção de utilizar inseticida também é recorrente, embora possa ser prejudicial para o ambiente.
No entanto, a vespa asiática revela-se inteligente e reage à sua exterminação. Há quem diga que a vespa está a preferir construir os vespeiros em zona rasteira, escondidos por entre arbustos no chão, o que tem elevado a perigosidade para os ataques a humanos. Este facto constata-se pela grande parte das hospitalizações, causadas por ataques de vespa asiática, que ocorreram durante a limpeza de bermas de terrenos agrícolas, geralmente com silvados densos e arbustos, vindimas, silvicultura ou por pura distração em zona rural.
Apesar de tudo, este ano tem sido “terrível” para as abelhas, com muitas colmeias destruídas pelas velutinas. Apesar de todas as armadilhas colocadas, tem sido impossível dar conta de todas as ameaças que surgem diariamente nas zonas montanhosas do Minho. Em julho deste ano, o presidente da AAAC, afirmou que “a vespa asiática ou velutina provocou uma enorme quebra na produção de mel, sobretudo no norte do país.”
De forma a “diminuir o impacto causado pela vespa asiática nas zonas onde já se encontra instalada e prevenir a disseminação da espécie a outras áreas,” foi desenvolvido o “Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal”, a cargo da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária.
Através deste plano, o Governo disponibiliza anualmente mais de um milhão de euros para que os municípios possam desenvolver um sistema eficaz de eliminação da espécie, algo que não se tem provado suficiente para erradicar as já maiores predadoras de abelhas em Portugal.
Recentemente, foi aprovado um plano dos municípios de Cabeceiras de Basto, Fafe, Guimarães, Mondim de Basto, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Famalicão e Vizela, no valor de 200 mil euros, contra a vespa asiática. Este projeto prevê a implementação de uma rede de armadilhas no território, a aquisição de equipamentos para captura e destruição de ninhos, capacitação técnica operacional e, ainda, a realização de uma conferência para discussão da temática da vespa velutina e os seus impactos na região minhota.
GLOSSÁRIO
Entomólogos: Especialistas que estudam
os insetos sob todos os seus aspetos e as suas relações com o homem, com
as plantas, com os animais e com o meio-ambiente.
Apicultores: Indivíduos que criam
abelhas da espécie Apis mellifera para a obtenção de um ou mais dos
seguintes produtos: mel, cera, pólen, geleia real, própolis ou veneno.
Além disso, podem dedicar-se à criação de rainhas para uso próprio ou
comercialização para outros apicultores, ou utilizar a apicultura como
instrumento de polinização de culturas agrícolas. Há ainda os que criam
abelhas com o simples propósito de satisfazer a sua curiosidade
científica ou como passatempo.
Colmeias: Sociedade de abelhas ou o abrigo
construído para ou pelas abelhas.
Enxames: Conjunto das abelhas de uma colmeia
ou de um cortiço que voam em conjunto.
Vespeiros: Ninho ou conjunto de vespas
perigosas.
Apiários: Conjunto de colmeias utilizadas
para criação de abelhas, normalmente para a colheita de mel ou a polinização
de culturas agrícolas.
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A Terra está a aquecer mais rápido do que o esperado
#Clima
O nosso planeta está a ficar cada vez mais quente. Cientistas da NASA e da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos da América (NOAA) concluíram, num estudo publicado recentemente, que o desequilíbrio de energia da Terra quase que duplicou entre 2005 e 2019. Isto significa que o planeta está a acumular energia, ou seja, a aquecer.
O clima é calculado pelo equilíbro entre a energia radioativa do Sol, que é absorvida na atmosfera e na superfície, e a quantidade de radiação infravermelha térmica que a Terra emite para o espaço. Os dados de Argo — um sistema global de observação oceânica — também permitem fazer uma estimativa rigorosa da taxa de aquecimento dos oceanos. A Terra absorve cerca de 240 watts por metro quadrado de energia solar. Os oceanos absorvem cerca de 90% desse calor.
Os gases com efeito de estufa concentram o calor na atmosfera, capturando a radiação emitida. O aumento de temperatura tem como consequência o degelo, ou ainda o aumento do vapor de água e alterações nas nuvens.
Os cientistas afirmam, contudo, que diferenciar as mudanças climáticas naturais das que são provocadas pelo ser humano é um exercício complicado.
Ilustração: Abhineeth Ajay
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