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Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025


É importante falar sobre as adaptações curriculares com os alunos – eis como o fazer

Educação Especial | 15-04-2025

Desde o recurso a metáforas no ensino básico até organizadores gráficos para adolescentes, aqui ficam algumas sugestões para normalizar as acomodações de aprendizagem em todos os níveis de ensino.

Imagem: Edutopia

Uma professora está a dar uma aula sobre justiça — pelo menos é o que parece.

Primeiro, pede a uma criança alta para ir buscar uma régua que colocou por cima do quadro branco. A criança consegue chegar-lhe facilmente. A seguir, pede a um aluno mais baixo que faça o mesmo e ele não consegue alcançá-la. “Do que é que o Alex precisa?” a professora pergunta à turma do 4.º ano. “Podemos dar-lhe um banquinho, certo?”

As tarefas que são fáceis para algumas crianças podem ser difíceis para outras, e “nem todos vão precisar das mesmas coisas”, explica a professora aos alunos. “Mas justo não significa que todos recebem o mesmo. Quero que parem e pensem no que precisam e no que outro colega poderá precisar.”

Falar com os alunos sobre adaptações curriculares pode obrigar muitos professores a sair da sua área de especialidade, exigindo-lhes que abordem temas sensíveis.

A capacidade de enquadrar as adaptações de uma forma positiva — tanto para as crianças que precisam delas como para os colegas que têm curiosidade ou até julgam os apoios à aprendizagem — é um fator essencial na criação de uma sala de aula onde os alunos se respeitam mutuamente e defendem as suas necessidades.

Os alunos com deficiência que se sentem estigmatizados na escola podem ter dificuldade, na idade adulta, em construir uma identidade positiva em torno da sua condição.

1.º ciclo: construir cultura e relações

A ideia de tratar um osso partido com um penso rápido é obviamente ridícula e hilariante para os alunos do 4.º ano.

Depois de um rápido debate sobre justiça, um professor pede à turma que simule diferentes ferimentos físicos — um nariz a sangrar e um braço partido, por exemplo.

“Dei um penso rápido à Andreia, que esfolou um joelho,” diz o professor, acrescentando: “e tenho que ser justo, por isso vou pôr também um penso rápido no braço partido do Miguel.”

Um coro de garagalhadas ecoa pela sala.

Ao dar a todos os alunos o mesmo tratamento, o professor está a fazer uma observação sobre adaptações ao processo de aprendizagem. “Estava a tratar todos exatamente da mesma forma... será que isso ajuda?”, pergunta. “Ao longo do ano letivo, vão reparar que alguns alunos podem ser tratados de um modo um pouco diferente. Alguns trabalham com outros professores; alguns até recebem prémios que vocês não recebem. Quando virem isso, quero que se lembrem desta atividade.”

As conversas sobre as acomodações decorrem ao longo do ano letivo. O professor mantém um quadro de ancoragem na parede, lembrando aos alunos que devem fazer perguntas-chave: O que é que eu não sei sobre esta situação? Será que alguém precisa de algo que eu não preciso?

O professor faz regularmente referência à lição do penso rápido. Quando um aluno se queixa por não receber uma recompensa, o professor diz-lhe: “Esse não é o teu penso rápido.” Para além de estabelecer uma cultura de sala de aula, a metáfora do penso rápido — embora o professor reconheça que pode ser problemático equiparar ferimentos físicos a deficiência — dá às crianças “uma linguagem que podem utilizar para comunicar as suas necessidades”.

As crianças são curiosas: Se, na sala de aula, surgirem questões sobre adaptações, responder de uma forma evasiva pode inadvertidamente indicar que há algo de errado com as crianças que têm acomodações. Em vez de evitar o assunto, quando os alunos levantarem questões sobre as adaptações de um colega, pergunte se eles próprios precisam de apoio.

Usar o que é familiar ajuda: Se as crianças fizerem perguntas sobre adaptações, mencione o uso de óculos: todos precisamos de ferramentas diferentes para sermos bem sucedidos.

Conheça os seus alunos: Para preparar as crianças para o sucesso, arranje tempo para falar sobre as adaptações em privado, sem partilhar um diagnóstico — no 1.º ciclo, os alunos podem não estar cientes das suas dificuldades de aprendizagem ou do plano educativo individual (PEI). Pergunte se algo funcionaria melhor e se precisam dessa ajuda em todos os momentos. Não se deve forçar a adaptação se o aluno estiver bem sem ela. Em vez disso, diga: “Se precisares disto, está aqui para ti.”

Antes de os alunos usarem uma acomodação pela primeira vez, considere explicar como funciona. Pode dar-lhes a possibilidade de utilizarem uma aplicação para ouvirem as perguntas dos testes, por exemplo, demonstrando rapidamente como deve ser utilizada.

2.º e 3.º ciclos: aumentar a colaboração e a metacognição

Esta é uma fase importante para os alunos aprenderem a defender-se a si próprios e a envolver-se na elaboração do PEI.

É útil perguntar aos alunos o que consideram difícil. Por vezes, têm que ser orientados: “Sentes que estás a ficar sem tempo nos testes? Sentes-te distraído pelos outros alunos? Precisas de sair da sala por uns momentos?” Pode pedir-lhes que identifiquem os seus pontos fortes e fracos, fazendo uma lista do que é mais fácil e mais difícil para eles. Nestas idades, construir a metacognição é o mais importante.

Ajude os alunos a sentirem-se à vontade: Os alunos estão a passar por mudanças cognitivas que tornam a identidade e as ligações sociais muito importantes. Alguns sentem-se envergonhados por precisarem de auxiliares e necessitam de ajuda para gerirem a auto-consciência sobre as suas diferenças de aprendizagem. Uma conversa rápida sobre as adaptações a que têm direito pode ajudar.

Entretanto, uma vez que as necessidades dos alunos podem evoluir à medida que o ano letivo avança, é recomendável que se verifique periodicamente como as adaptações estão a funcionar e se discutam alterações.

Utilizar a narração de histórias: A leitura em voz alta, embora menos comum no 2.º e 3.º ciclos, pode expor os alunos a novas ideias e ajudá-los a desenvolver uma compreensão dos outros.

Ensino secundário: construir competências de autonomia para o mundo real

No ensino secundário, os alunos podem e devem participar nas reuniões do PEI e começar a tomar decisões sobre as suas adaptações, um passo importante na preparação para a idade adulta. O objetivo é saberem manifestar-se quando pensam que algo deve mudar.

O tom destas conversas deve ser capacitador e encorajador da independência. Neste nível, os alunos têm de se sentir à vontade para se apresentarem a outras pessoas e saber o que precisam.

Ensine os alunos a prepararem-se: Aos 16 anos, os alunos têm de começar a ser preparados para o facto de não terem um PEI no mundo real. Dê-lhes um organizador gráfico onde possam escrever aquilo em que são bons, o que apreciam na escola, o que querem melhorar e as perguntas que gostariam de fazer aos professores. Com base nessas notas, os alunos podem sugerir alterações às suas adaptações.

Ser flexível e criar autonomia: É possível haver uma maior flexibilidade à medida que os alunos amadurecem, solicitando a sua opinião sobre a forma como as adaptações são implementadas na sala de aula, por exemplo. Dar aos alunos a oportunidade de tomarem decisões sobre a sua aprendizagem contribui para a sua adesão e motivação.

Adaptado de: It’s Important to Talk About Learning Accommodations With Your Students—Here’s How to Do It
Ler mais: Improving Collaboration Between Special Education and General Education Teachers


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