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Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025


Manual da Humanidade (em desuso)

Ísis Páris, 12.º A | 05-02-2025

A Declaração Universal dos Direitos Humanos existe desde 10 de dezembro de 1948, tendo 76 anos. Mas será que durante estas sete décadas mudou algo?

Esta declaração, adotada pela ONU após a Segunda Guerra Mundial, foi criada na esperança de se alcançar a paz mundial. Mesmo não sendo um documento de obrigatoriedade legal, inspirou o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais. Tem 30 artigos, todos a apelar à igualdade, liberdade, ao cumprimento de deveres e à possibilidade de escolha e, enquanto muitos acreditam que a criação de leis resolve todos os problemas, o maior deles é o facto de precisarmos de um documento que nos diga como nos devemos tratar, e a relembrar que todos temos algo em comum, somos humanos, e não importa se se é branco, preto, homem, mulher, gay ou hétero, cristão ou judeu, todos merecem respeito. E, mesmo parecendo óbvio, as nossas “obrigações”, quase não sendo necessário escrevê-las, há muitos que não as respeitam.

Nós, enquanto humanos, continuamos a falhar nos princípios mais básicos, e, se isto é ser humano, talvez seja melhor repensarmos o significado de humanidade. Atualmente, ser humano parece significar não ter compaixão, ignorar o sofrimento dos outros e colocar o dinheiro acima de tudo. Vivemos num mundo onde se destrói o planeta sem remorsos e, se nem conseguimos sentir empatia por aqueles que vemos a sofrer, como podemos preocupar-nos com a Terra, este planeta sem rosto? Se ignoramos as lágrimas de uma pessoa que implora por ajuda, como não ignoraríamos a destruição silenciosa da Terra, que não chora, não grita nem implora? Podemos resumir o problema numa palavra: indiferença. Preferimos pensar que o problema não é nosso, que não há nada a fazer, nenhuma solução possível. Enquanto tivermos um céu azul sobre as nossas cabeças e água nas barragens, será sempre fácil fingir que não é nada connosco.

Mas não é só a ganância que nos afasta da verdadeira humanidade. O ódio destilado com base em crenças, na cor da pele, na identidade de género ou na orientação sexual continua a ser um problema real, porém, o mais absurdo é que muitos dos que propagam esse ódio atacam pessoas que simplesmente estão a tentar viver as suas vidas, sem interferir com ninguém. A internet veio amplificar esta intolerância e, hoje em dia, alguém pode estar sentado no conforto da sua casa e enervar-se com a vida de outra pessoa, que está a milhares de quilómetros de distância, apenas porque é diferente.

Será que ainda há esperança para a humanidade? Talvez. Mas só se pararmos de usar esta palavra para justificar os nossos piores comportamentos e começarmos a honrar o verdadeiro significado de ser humano: ter empatia, respeitar, proteger os outros e o mundo em que vivemos. Afinal, não deveríamos precisar de uma declaração escrita para nos lembrar do óbvio: que todos merecemos ser tratados com dignidade.

No entanto, se precisamos de um documento para nos dizer isso, será que alguma vez entendemos realmente o significado de humanidade? E será que conseguiremos entender?

É irónico como “usamos e abusamos” de palavras como “direitos” e “liberdade”, mas, ao mesmo tempo, escolhemos ignorar as violações diárias desses mesmos direitos.

O Artigo 1.º declara que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, mas na prática, a cor da pele, o género, a orientação sexual ou a nacionalidade ainda definem se alguém será tratado com respeito ou como um alvo.

O Artigo 3.º garante o direito à vida, mas guerras, fome e violência continuam a roubar vidas sem que ninguém se responsabilize.

O Artigo 5.º proíbe a tortura e o tratamento desumano, mas continuamos a ver pessoas a serem perseguidas, torturadas e mortas por serem quem são.

O Artigo 19.º refere que “Todos os seres humanos têm direito à liberdade de opinião e expressão”, mas ainda são muitos aqueles que são ostracizados pelo que dizem ou fazem, em público ou nas redes sociais.

Segundo o Artigo 25.º, “Todos os seres humanos têm direito a um padrão de vida capaz de assegurar a saúde e bem‑estar de si mesmo e da sua família”, porém, muitas famílias têm dificuldade em colocar comida na mesa, mesmo trabalhando até à exaustão. Enquanto uns vivem no luxo, outros lutam pela sobrevivência.

O problema não está na Declaração, mas em nós. Criámos leis e tratados, mas não conseguimos criar um mundo onde estas regras sejam realmente seguidas; até podemos dizer que evoluímos, que aprendemos com os erros do passado, mas continuamos a repetir as mesmas injustiças, apenas com rostos e cenários diferentes.

O verdadeiro impacto da Declaração Universal dos Direitos Humanos não está apenas no documento em si, mas na forma como escolhemos aplicá-lo. Não basta que exista no papel, tem de existir nas nossas ações, nas nossas escolhas diárias, não se trata de esperar que os governos ou as organizações resolvam tudo, mas de perceber que cada um de nós tem um papel nisto, e que defender os direitos humanos não é apenas uma luta política ou jurídica, mas uma escolha pessoal.

Porque, no final, a questão não é se os direitos humanos existem. A questão é: será que somos humanos o suficiente para os cumprir?


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“To deny people their human rights is to challenge their very humanity.” – Nelson Mandela