Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025
A psicologia da desculpabilização: Como as pessoas justificam o facto de magoarem os outros
Psicologia | 25-09-2024
A desvinculação moral é a história que contamos a nós próprios para não nos sentirmos mal quando praticamos ações que habitualmente iriam contra os nossos próprios princípios, ou as desculpas que encontramos para não nos sentirmos culpados por magoar os outros.
Se fizermos algo de errado, sentimo-nos normalmente culpados por isso. A desvinculação moral permite-nos comportarmo-nos mal e continuar a sentirmo-nos bem, convencidos de que os nossos próprios padrões morais não se aplicam a nós. Este fenómeno psicológico apresenta-se sob oito formas.
Vamos analisar o caso de Sara, uma jovem de 16 anos que foi vítima de bullying na escola. Quando o professor confronta os responsáveis, cada um deles utiliza um tipo de desvinculação moral para se explicar.
1. Justificação moral
Martim é o primeiro a
responder. Ele diz: “Estava apenas a tentar endurecê-la. O mundo é um
lugar duro, e se ela não aguenta uma pequena provocação, como é que vai
sobreviver?”
Martim usa uma justificação moral para legitimar o seu
comportamento como uma espécie de serviço público.
2. Rotulagem eufemística
O Eric diz: “Estávamos só
a brincar com ela. Não é nada de especial”.
Chamar ao bullying “brincadeira” faz com que pareça mais benigno
do que é, e é por isso que se chama rotulagem eufemística a esta
forma de desresponsabilização.
3. Comparação vantajosa
A Ana diz: “Há miúdos por
aí a roubar! Nós só nos estávamos a divertir”.
Ao contrastar a sua conduta com comportamentos que considera piores, a
Ana faz com que as suas próprias ações pareçam aceitáveis. A Ana utiliza
a comparação vantajosa.
4. Deslocação da responsabilidade
A Débora é a próxima: “A culpa não é minha, os outros obrigaram-me a fazê-lo!”, diz. Faz-se de vítima, alegando que estava apenas a cumprir ordens. A isto chama-se deslocação da responsabilidade.
5. Difusão de responsabilidade
O Daniel fica indignado. “Porque é que estão a implicar comigo? Não sou o único! Toda a gente estava a fazer o mesmo!” Ao apontar para os outros envolvidos, o Daniel está a minimizar o seu papel, fazendo aquilo a que chama difusão de responsabilidade.
6. Ignorar as consequências
O Samuel não vê qualquer
problema na sua atuação. “Ela está a exagerar, não é como se fôssemos
monstros que comem pessoas vivas.”
O Samuel tenta reduzir a sua culpa, minimizando os sentimentos de Sara
e ignorando as consequências.
7. Desumanização
O Hector recorre à desumanização quando diz: “Ela é uma esquisita e devia estar num jardim zoológico!” Insinua que Sara é um animal e, portanto, menos digna de respeito e empatia.
8. Atribuição de culpa
O António ri-se. “Se não queria ser gozada, não devia agir de uma forma tão estranha. A culpa é dela. Vê o que ela veste na escola?” O António está a acusar a Sara, apresentando as suas ações apenas como reativas – a isso chama-se atribuição de culpa.
***
O professor apercebe-se do que se está a passar, diz pessoalmente a cada um que não tolera este tipo de comportamento na turma, propõe a suspensão dos oito rufias e pede-lhes que, em casa, reflitam sobre as suas justificações esfarrapadas. Na semana seguinte, na aula, apresenta os oito princípios e explica como a desvinculação moral pode levar a um aumento da violência e a uma redução da empatia.
E tu? Já alguma vez utilizaste a desvinculação moral para justificar um mau comportamento? E achas que as crianças nas escolas beneficiariam se aprendessem sobre isso? Partilha aqui a tua opinião.
Fonte do texto e vídeo: Sprouts
“Bullying will eventually end if we all decide to stop it.” – Choi Si-won