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Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025


Navegadores de sonhos

Turma 11.º B | 31-10-2024

Apasinee Kaewmalai

Era uma vez, numa vila muito distante, uma escola onde os sonhos eram difíceis de se realizar. Há muito que os jovens da vila não saíam, nem para trabalhar, nem para viverem as suas vidas noutro sítio, pois tinham de trabalhar no campo ou ajudar com as tarefas domésticas. Valença era um lugar cinzento, sem sonhos e sem esperança. Contudo, a situação viria a mudar ao longo do tempo. Foi colocada na escola uma nova professora de Português, cujo nome era Maria José. A esta foi-lhe atribuída apenas uma turma, e mal sabiam os alunos que esse novo ano escolar iria mudar as suas vidas para sempre.

No primeiro dia de aulas, os alunos da turma, apesar de não se darem todos uns com os outros, não precisaram de apresentações, pois já se conheciam. A primeira aula, por coincidência, foi Português. A professora apresentou-se aos alunos e estes também, assim, o fizeram. Para uns, a professora era como todos os outros, isto é, uma pessoa que está ali só para ensinar o que está num livro, mas para outros ela tinha algo de diferente. No dia seguinte, a primeira matéria que deram foi poemas. Poemas com diferentes temas, diferentes sentimentos, diferentes ideias. Um tema que nenhum aluno naquela escola dera até àquele momento. Numa vila como aquela, sonhar alto era raro e assim existia uma espécie de regra que impedia qualquer movimento estranho. Os alunos expressaram ideias, argumentaram e chegaram à conclusão que havia muito mais para viver do que ficar preso naquela vila.

Com o passar do tempo, a turma tornou-se unida e partilhava os seus sonhos e as ideias que ocorriam quando conviviam juntos. A professora Maria abriu-lhes a mente para o futuro e ajudou-os nos seus percursos escolares. No final do ano, os alunos celebraram todos juntos, porque tiraram boas notas e também queriam agradecer à professora por tudo que ela fizera por eles. Mal eles sabiam que esta tinha de ir embora da escola. Infelizmente, apesar de todos os esforços que tinha feito para ficar em Valença, não foi aceite e tinha que regressar à região de onde viera. A turma não pôde fazer nada para além de agradecer. E quando chegou a despedida, os alunos combinaram viver uma aventura. Uma aventura para fugir daquele pesadelo. Graças à professora, descobriram que havia muito mais para além de lavrar o campo e limpar a casa.

Como prometido, todos se juntaram para ir explorar um sítio novo. Utilizaram um bloco de bilhetes que uma das alunas roubara aos avós, e partiram no comboio para um lugar desconhecido, para a sua primeira aventura. Alguns alunos não estavam muito seguros para fazer esta viagem, então levaram fotografias de família para os reconfortar. Quando chegaram à última paragem de comboios, não sabiam onde estavam, mas sentiam que algo os esperava naquele lugar.

Depois de uma longa caminhada, a turma encontrou uma casa abandonada com três andares e um jardim gigantesco. Então, foi aí que decidiram que seria a sua nova casa. Como estavam cansados limitaram-se a dormir e a organizar a casa no dia seguinte. Alguns deles diziam que a casa estava assombrada, mas sentiam-se confortados com os sons e as luzes da sua nova casa. Como combinado, no dia seguinte, todos dividiram as tarefas e limparam a casa de uma ponta à outra. A casa era velha, então precisavam de móveis novos apesar de ter alguns. Foi, então, que cinco dos alunos foram à procura de coisas abandonadas pelas redondezas. Passado algum tempo, encontraram três colchões, algumas almofadas e uma mota que por sorte estava em bom estado.

Entretanto, os cinco elementos do grupo estavam a caminho de casa, alguns estavam a recolher fruta que se encontrava no jardim. Eles não sabiam como numa casa abandonada poderia existir fruta em bom estado, mas como não tinham muitos mantimentos, tiveram de colher as frutas.

Outros estavam a explorar melhor a casa. Dois alunos decidiram aventurar-se e foram ver o sótão. De facto, a quantidade de pó era um exagero, mas isso não os impediu de encontrarem três peluches junto de um livro de batismo. A dupla aproximou-se dos objetos e abriu o livro. Descobriram que cada peluche pertencera a cada um dos trigémeos. Um urso para o mais velho, uma raposa para o do meio e um papagaio do mar para a mais nova.

Também encontraram uma fotografia junto dos objetos. Uma imagem dos três, na entrada da casa, mas ficaram chocados ao descobrirem que a fotografia fora tirada há um mês. “Como é possível a fotografia ser tão recente? Por que é que nenhum dos irmãos está em casa? E por que é que a casa está em tão mau estado?” Foram estes os pensamentos dos dois, antes de ouvirem um barulho, que vinha da parte mais escura do sótão. Sentiram tanto medo que começaram a estremecer até às pontas dos pés, mas pararam por um momento. Depararam-se com um clarão de luz, mas à medida que a luz se aproximava, reconheceram que a luz que os assustava era apenas um dos trigémeos, mais precisamente a mais nova. Sentiram-se mais calmos por ver uma cara conhecida, mas também assustados por ver uma espécie de espírito. Ela não disse nada, apenas apontou para o papagaio do mar, a indicar que seria dela. Os dois, sem saber o que fazer, limitaram-se a pegar no peluche e a entregar-lho. Para surpresa deles, a menina começou a gritar, como se estivesse a ser queimada. Ficaram extremamente assustados e tentaram fugir, mas a menina impediu-os. Ficaram presos no sótão com a irmã mais nova e esta acabou por os queimar também, acabando os dois por morrer aos gritos.

À medida que o tempo passava, os cinco membros acabaram por chegar a casa. Levaram os colchões para os quartos, junto com as almofadas e um deles decidiu testar se a mota funcionava ou não. No início, estava tudo a correr bem, mas passados segundos a mota parecia ter ganhado vida. O aluno não conseguia travar e acabou por bater contra uma árvore. Felizmente, apenas ficou tonto com o choque, mas a mota ficou destruída. Não sabia como tinha sobrevivido e, da moto, restava apenas a matrícula. Desiludido com o que acabara de acontecer, não tinha outra opção a não ser ir para casa a pé.

Ao caminhar, viu uma pessoa no fundo da rua, mesmo à beira da casa onde agora estava a viver com os seus companheiros. Quando se aproximou, apercebeu-se que era um adolescente mais ou menos da sua idade, mas que estava coberto de queimaduras. Sem saber o que fazer, reagiu em pânico e tentou correr para dentro de casa, mas não foi bem sucedido. O rapaz agarrou nele e fez com que se evaporasse como se fosse vapor a sair dum tacho de água a ferver. O rapaz que acabara de o matar era o irmão mais velho dos trigémeos.

Entretanto, os restantes alunos da turma estavam a preparar o jantar e a reorganizar os novos móveis. Um deles deu por falta dos três colegas. Então, dividiram-se em dois grupos. Um, a acabar o jantar, e o outro a procurar os desaparecidos.

Alguns foram à parte de fora da casa e repararam que a mota tinha desaparecido. Acharam estranho, mas como um dos alunos que a tinha encontrado gostara muito dela, pensaram que tinha ido dar uma volta . Sendo assim, ficaram mais descansados e voltaram para dentro de casa. Outros, foram à parte de trás da casa, mas não viram nada de estranho, para além das árvores de fruto.

De dia, as árvores pareciam estar muito bem conservadas, mas de noite estas estavam completamente podres. Ficaram muito preocupados, e com o intuito de dizerem aos outros o que acabaram de ver, começaram a correr para dentro de casa. Contudo, não conseguiram, pois uma sombra estranha estava a bloquear a porta. Este seria o irmão do meio. É claro que nenhum deles sabia quem era, mas mesmo assim estavam com muitíssimo medo. Eles tentaram passar por ele, mas este não os deixou. O rapaz cheirava a queimado e os alunos começaram a assustar-se seriamente. Apenas com um leve movimento de mão, o rapaz fez com que o pequeno grupo de alunos que ali estava desaparecesse sem deixar rasto. Ao mesmo tempo, a metade do grupo que restava, estava a acabar de cozinhar. Colocaram as compotas de fruta numas pequenas taças para barrar no pão e colocaram a tarte em cima da mesa. O cheiro que percorria a cozinha naquele momento era inimaginável. Impacientes de tanto esperar, o grupo que estava na cozinha provou as delícias que estavam em cima da mesa. Infelizmente para eles, começaram a sentir dores leves no estômago, mas à medida que os segundos passavam as dores começaram a piorar e acabaram por morrer, ficando estendidos no chão.

Quando os restantes alunos entraram em casa, depois de calcularem que o colega tinha dado um passeio de mota, depararam-se com alguns dos seus companheiros mortos. Começaram todos a entrar em pânico, não sabiam o que fazer e então perceberam que havia qualquer coisa de errado naquela casa. Para se protegerem, decidiram agarrar em objetos que apareciam e agir se vissem algo fantasmagórico. E foi assim, de facto, que fizeram. Só restavam mais cinco alunos. Um agarrou numa lanterna para observar tudo com maior detalhe, outro agarrou numas socas, pois as solas são duras e poderiam dar jeito, outro agarrou num apito para se poderem comunicar se algo acontecesse, o quarto agarrou no cinturão do judo para prender algo, se fosse necessário, e o último agarrou numas baquetas de uma bateria para fazerem de canivetes.

Assim sendo, os restantes sobreviventes exploraram a casa de cima a baixo, para tentar encontrar algo de sobrenatural. Pensavam que poderiam recuperar os amigos, mas as coisas não iriam correr muito bem para os seus lados.

Como estavam todos cheios de medo, decidiram ir todos juntos. Ao caminhar pelo corredor, viram uma luz, uma sombra e um rapaz. Sentiram medo, mas de certa forma algum conforto, também. Os cinco aproximaram-se e viram três crianças, muito parecidas, na verdade. Tinham as peles queimadas e as faces belas e brilhantes de alguma forma. De repente, os três começaram a caminhar para o sótão. É claro que nenhum dos cincos queria ir para o sótão, mas sentiam que era a coisa certa a fazer.

Ao chegar à entrada do sótão, as três crianças situaram-se em frente da sua fotografia. Os alunos aproximaram-se e descobriram que os três eram trigémeos. Ao ver a situação, uma das alunas exigiu uma explicação do que estava a acontecer. O irmão mais velho limitou-se a dizer que queria andar de mota. O irmão do meio disse que tinha fome. E, por fim, a irmã mais nova disse que tinha dores pelo corpo todo.

Nenhum dos alunos estava a perceber o que se estava a passar, mas com algum tempo, um deles reparou que os brincos e o colar que a irmã mais nova estava a usar eram iguais aos da professora Maria. O aluno disse silenciosamente aos seus companheiros o que acabara de ver e aperceberam-se que, no livro onde estavam as fotos dos três, a sua professora estava ao seu lado.

Surpresos, os alunos perguntaram o que a sua querida professora estava a fazer nas fotografias. Os três só olhavam para eles com as faces sérias, quando, de repente, a professora apareceu por de trás dos trigémeos. Os alunos ficaram em choque! A professora começou por explicar que não era uma pessoa normal, mas sim um ser de outro mundo. Ela eliminava almas perdidas, isto é, pessoas que tinham sofrido com tudo ao longo da vida, especialmente crianças.

Também explicou que a turma tinha muitas capacidades e que seriam grandes e extraordinários adultos no futuro, mas não podia evitar tirá-los do sofrimento. Decidiu, assim, influenciar a mente dos alunos para embarcarem numa aventura, e assim aconteceu. Os trigémeos eram os seus filhos e, com a morte do pai deles, as crianças cometeram atos de sofrimento que levaram a professora a tornar-se no ser que era. Sendo assim, conduziu os alunos até à sua antiga casa para os abrigar do perigo.

Os alunos não estavam a acreditar no que estavam a ouvir, não conseguiam entender o motivo pelo qual sua professora lhes tinha feito tal coisa, mas eles sentiam que ela estava correta. Viviam uma vida sem alegria, não tendo um futuro digno das suas capacidades e, quando entraram no comboio para ir à aventura, sabiam que já era o suficiente para terem uma razão para terem vivido aquela vida. Aprenderam a serem todos amigos, a conviver uns com os outros e, especialmente, a viverem uma vida com um sorriso de esperança para o futuro, pois na vila não a tinham. Finalmente, os trigémeos acabaram por eliminar os cinco restantes alunos e, de seguida, também eles desapareceram.

A professora sentiu falta dos momentos que passara com os seus alunos e com os seus filhos. E, então, para nunca se esquecer, quando regressou a casa plantou uma pequena árvore, com o intuito de relembrar os seus alunos, a forma como evoluíram e se tornaram fortes com o tempo. No fim, a professora colocou uma espécie de bola no topo da árvore, não para simbolizar o Natal, mas sim a representação de um novo capítulo na sua vida.

Conto coletivo. Projeto pedagógico das Comédias do Minho: Como ocupar uma Escola.

“The only thing that really scares me about Halloween is running out of candy.” – Melanie White