A Páginas Tantas
Epidemias que mudaram a História
Os efeitos da ignorância
No século XIV, desconhecia-se a origem da peste negra. Na dúvida, as populações olhavam os estrangeiros de lado. Relatos da época mostram que, em Portugal, apontava-se o dedo aos peregrinos religiosos e, em Espanha, aos árabes. Já no Norte da Europa, as culpas recaíam principalmente sobre os judeus, acusados de envenenarem os poços de água. As bulas do Papa Clemente VI, que em julho e setembro de 1348 isentaram oficialmente os judeus da responsabilidade no contágio, não evitaram que milhares deles fossem mortos um pouco por todo o lado.
À época, corriam notícias de que a peste tivera origem geográfica na Ásia. Os viajantes da Rota da Seda, iniciada 600 anos antes, contavam que já em 1330 havia gente a morrer no deserto de Gobi, entre a Região Norte da China e a Mongólia. Dali, a doença ter-se-ia propagado até à península da Crimeia, no mar Negro, levada por mongóis que atacaram o grande entreposto comercial de Caffa, propriedade de um genovês. De Caffa, seriam, depois, mercadores genoveses e venezianos a espalhá-la a partir de Messina, um porto na Sicília. Além dos mercadores, que arrancavam em viagem sem saber estar infetados, os ratos e as pulgas foram vetores da contaminação.
Na Europa, há um claro “antes e depois” desta epidemia. Sempre que os historiadores se referem à segunda incursão da peste negra pelo Velho Continente, lembram como França e Inglaterra fizeram umas tréguas temporárias na Guerra dos Cem Anos ou como o sistema feudal britânico ruiu.
“The noblest pleasure is the joy of understanding.” – Leonardo da Vinci