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Gravidade, planetas e órbitas
O astrónomo britânico Edmond Halley era uma figura fora do comum. Ao longo da sua longa carreira, foi comandante da marinha, cartógrafo, professor de geometria na universidade de Oxford, administrador-delegado da Real Casa da Moeda, astrónomo real e inventor da campânula de mergulho a grande profundidade. Escreveu sobre o magnetismo, as marés e os movimentos planetários. Inventou o primeiro mapa meteorológico e uma tabela para medir a esperança de vida, propôs formas de calcular a idade da Terra e a distância a que fica do Sol e até descobriu um processo de conservar o peixe fresco. A única coisa que não fez foi, curiosamente, descobrir o cometa que tem o seu nome. Limitou-se a reconhecer que o cometa que viu em 1682 era o mesmo que outros avistaram em 1456, 1531 e 1607. Só passou a ser o cometa Halley em 1758, dezasseis anos após a sua morte.
Em 1683, Halley e o arquiteto Sir Christopher Wren estavam a jantar entre colegas e a conversa desviou-se para o modo como os planetas e outros corpos celestes se deslocavam no espaço. Sabia-se que os planetas descreviam uma espécie de órbita oval, conhecida como elipse, mas não se sabia porquê. Wren propôs uma generosa recompensa de 40 xelins, correspondente a duas semanas de ordenado, ao colega que apresentasse a solução.
Decidido a ganhar a aposta, Halley deslocou-se à universidade de Cambridge e atreveu-se a pedir ajuda a um professor de matemática, Isaac Newton. Sir Isaac respondeu de imediato que já sabia a resposta. Mas Halley não podia ainda reclamar o seu prémio. Só quatro anos mais tarde é que Newton publicaria as suas descobertas na obra Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica, conhecida como Principia.
Isaac Newton era um homem singular, de uma genialidade sem limites, mas solitário, tristonho, irritadiço ao ponto de ser paranóico, e capaz dos comportamentos mais estranhos. Após a publicação dos Principia, as suas teorias tornaram-no imediatamente famoso. Embora tenha sido considerado “um dos livros mais inacessíveis jamais escrito”, a obra foi uma revelação para todos aqueles que conseguiram compreendê-la. Não só explicava matematicamente as órbitas dos corpos celestes, como também identificava a força de atração que os mantinha em movimento, a gravidade.
Utilizando a terceira lei de Kepler, Newton deduziu matematicamente a natureza da força gravitacional. Mostrou que a mesma força que atrai uma maçã para a Terra mantém a Lua na sua órbita e é responsável pelas órbitas das então recentemente descobertas luas de Júpiter. Foi o primeiro a deduzir que estes fenómenos se deviam à mesma força. É este o sentido da palavra universal aplicada à atração newtoniana: a mesma lei da gravidade que se aplica em todo o universo.
Quando lhe perguntaram como efetuava as suas surpreendentes descobertas, Newton respondeu: “Pensando nelas.”
Sagan, C. (2003) Cosmos. Gradiva.
Bryson, B. (2021). Breve história de quase tudo. Bertrand Editora.
“Imagination is more important than knowledge.” – Albert Einstein