A Páginas Tantas
Radioatividade revelada
O século XIX tinha ainda reservada uma última grande surpresa para os químicos. Tudo começou em 1896, em Paris, quando Henri Becquerel deixou um pacote de sais de urânio dentro de uma gaveta, sobre uma chapa fotográfica embrulhada. Algum tempo depois, quando a tirou de lá, descobriu, surpreendido, que os sais tinham feito uma impressão na chapa, como se esta tivesse sido exposta à luz. Os sais tinham emitido uma espécie de radiação.
Tendo em conta a importância da sua descoberta, Becquerel tomou uma decisão muito estranha: passou o problema a uma jovem recém-licenciada chamada Marie Curie. Trabalhando com o marido, Pierre, Marie Curie descobriu que certos tipos de rochas libertavam quantidades extraordinárias e constantes de energia, sem no entanto diminuírem de tamanho ou sofrerem qualquer transformação percetível. O que nem ela nem o marido podiam saber — o que ninguém, aliás, podia saber até Einstein o explicar dez anos mais tarde — era que as rochas estavam a converter massa em energia de uma maneira incrivelmente eficaz.
Marie Curie chamou a este fenómeno radioatividade.
Durante muito tempo pensou-se que uma coisa tão milagrosamente energética só podia ser benéfica. Durante anos, vários fabricantes de pasta de dentes puseram tório radioativo nos seus produtos e, pelo menos até aos finais da década de 1920, o Glen Springs Hotel, na região de Nova Iorque, recomendava orgulhosamente os efeitos terapêuticos das suas “termas minerais radioativas”. A radioatividade só foi banida dos produtos de consumo em 1938.
Em poucos anos, Pierre Curie começou a dar sinais de doença provocada pela radioatividade e, embora Marie continuasse a trabalhar na área com distinção, acabaria por morrer de leucemia devido à radiação. A radiação é tão perniciosa e duradoura que ainda hoje todos os seus artigos científicos de 1890 — até os seus livros de cozinha — são demasiado perigosos para serem manuseados livremente. Os seus livros de laboratório estão guardados dentro de caixas forradas a chumbo, e quem quiser consultá-los tem de usar roupas especiais de proteção.
Bryson, B. (2021). Breve história de quase tudo. Bertrand Editora.
Ilustração: Marián Meza
“Be less curious about people and more curious about ideas.” – Marie Curie