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Qual a diferença entre produção de fake news e trabalho jornalístico?
O trabalho jornalístico não é uma ciência exata. É uma atividade que obedece a princípios éticos e deontológicos claros, a regras e técnicas específicas e a um quadro regulatório especial.
O trabalho jornalístico na sua versão mais básica e significativa é a produção de notícias – embora admita outros estilos jornalísticos, como a entrevista, a reportagem, a crónica, a fotorreportagem ou a infografia. E a sua produção e difusão faz-se através de diferentes meios (escrita, vídeo, fotografia e som) e de diferentes plataformas (jornais, rádios, televisões, sites, redes sociais e agências noticiosas).
O fim último do jornalismo é capturar a realidade e transmiti-la às pessoas de forma objetiva, fidedigna e compreensível.
Daqui resulta um conjunto de princípios éticos e deontológicos que procuram assegurar que os jornalistas transmitem a informação que captam de forma isenta, objetiva, factual e independente de qualquer poder económico, político ou social. Ou seja, os jornalistas estão vinculados a transmitir a verdade e obrigados a recusar qualquer tentativa de distorção ou manipulação da realidade.
Mas resultam também daquele objetivo um conjunto de regras e de técnicas para assegurar que, de um lado, os jornalistas cumprem com os valores éticos que norteiam o seu trabalho, e que, do outro, conseguem também atingir o objetivo de tornar a informação compreensível e acessível para a generalidade da população. Ou seja, os jornalistas estão também obrigados a uma série de regras e de procedimentos técnicos que condicionam a forma como produzem as notícias, no sentido de respeitarem a factualidade, a imparcialidade, a transparência e a objetividade da informação que transmitem e, ao mesmo tempo, serem também claros e percetíveis para a generalidade da população.
Já a produção de informação manipulada não tem qualquer regra ou limite ético. Ao contrário do jornalismo, o seu único objetivo é fazer com que as pessoas adiram a uma determinada ideia ou atuem de uma determinada forma, seja para conseguirem um benefício económico ou sustentarem uma posição política. Não existem regras de recolha de informação, nem de verificação da informação, nem códigos deontológicos, nem órgãos de fiscalização, nem compromissos éticos com a objetividade, a factualidade, a imparcialidade, a independência ou a verdade. A única regra, de facto, é conseguir conquistar o máximo de pessoas para o objetivo pretendido, mesmo que isso signifique manipular os factos e alterar a realidade.
Fonte: Cidadão ciberinformado [MOOC]. NAU. / Ilustração: Jun Takahashi
“Fake news is cheap to produce. Genuine journalism is expensive.” – Toomas Hendrik Ilves