Contos do Mundo

Biblioteca Escolar EBS Muralhas do Minho, Valença

Imagem Wendy Tan

A fada e o lenhador

Era uma vez um bondoso lenhador que vivia com a mãe viúva e muito velhinha numa montanha chamada Geumgang.

Um dia, quando estava a cortar lenha, surgiu-lhe à frente um veado perseguido por um caçador. Com pena do animal, ajudou-o a esconder-se. Quando o caçador apareceu, perguntou-lhe se o tinha visto. O lenhador respondeu-lhe que não.

O veado agradeceu ao lenhador: “Salvaste-me a vida”, disse. “Se pedires um desejo, prometo que ele se realizará.”

“Gostaria de me casar e de ter uma família,” disse o lenhador.

O veado respondeu: “Existe um lago naquela direção, no qual as fadas vêm tomar banho. Os vestidos das fadas têm asas. Esconde um deles. Sem ele, a fada não poderá voar e regressar ao céu. Ela casar-se-á contigo. Mas nunca te esqueças: só lhe poderás devolver o vestido depois de terem três filhos.”

Tal como o veado dissera, o lenhador encontrou as fadas a banharem-se no lago. De mansinho, com cuidado e em silêncio, puxou um dos vestidos deixados nas pedras e escondeu-o. Passado algum tempo, as fadas saíram do lago. Todas se vestiram e regressaram ao céu. Com exceção de uma, que não encontrou o vestido.

O lenhador saiu então do seu esconderijo. Aproximou-se da fada e ofereceu-lhe um manto para cobrir o corpo. Dirigiram-se para casa, apaixonaram-se, casaram e tiveram dois filhos.

Viviam felizes. Todavia, de vez em quando a fada ficava muito triste. Sentia saudades da família que nunca mais tinha visto. Ao vê-la assim, o lenhador confessou-lhe que tinha sido ele a esconder o vestido.

A fada implorou-lhe: “Por favor, deixa-me vê-lo. Deixa-me experimentar o vestido só uma vez.”

O lenhador devolveu-lhe o vestido. A fada vestiu-o num instante, agarrou nos filhos e voou em direção ao céu. Só então o lenhador recordou as palavras do veado, mas era tarde demais. Sem a mulher e os filhos, os seus dias eram tristes.

Um dia, apareceu-lhe o veado que tinha salvo. “Se fores ao lago à noite do décimo quinto dia do mês, noite de lua cheia, vai descer um transporte do céu. Entra nele e subirás até ao céu. Lá encontrarás a tua mulher e os teus filhos,” disse o veado.

Na noite do décimo quinto dia do mês, noite de lua cheia, o transporte desceu do céu. O lenhador seguiu as instruções do veado e, quando encontrou a mulher e os filhos, ficou radiante. Novamente reunidos, viveram felizes, mas o lenhador começou a pensar na mãe idosa, que tinha deixado sozinha.

A fada disse-lhe: “Acho que devias ir visitar a tua mãe. Empresto-te o cavalo do céu, mas lembra-te: nunca deves desmontá-lo, seja qual for a circunstância!”

O lenhador regressou a casa e reencontrou a mãe. Ela ofereceu-lhe uma sopa de abóbora bem quente, que tinha acabado de fazer. O lenhador recebeu a tigela em cima do cavalo, obedecendo ao aviso da fada, mas deixou cair uma gota sobre o animal, que se assustou e o fez cair ao chão. Logo depois, largou a galope.

“Não, cavalo! Volta! Tens de me levar!” gritou o lenhador. Porém, o cavalo dirigiu-se para o céu sem olhar para trás.

O lenhador ficou em terra. Nunca mais viu a mulher nem os filhos. Quando morreu, transformou-se num galo.

E é esta a razão pela qual os galos sobem aos telhados, ainda hoje em dia, e cacarejam tristemente para o céu.

Conto tradicional da Coreia

The soul would have no rainbow if the eye had no tears. – Native American proverb