Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2023-2024
Reflexões sobre Os Maias
“Vencidos da vida”
Sara Correia, 11.º B | 27-05-2024
“Vencidos da vida” é o nome por que ficou conhecido um grupo informal constituído por personalidades intelectuais portuguesas do século XIX, com fortes ligações à chamada Geração de 70.
O nome provém da frustração e derrota perante a vida, devido ao seu insucesso na tentativa de alcançar a reforma social e cultural que tanto ansiavam.
Os Maias transmitem uma visão pessimista e satírica da sociedade portuguesa do século XIX. O autor derrama as experiências da sua própria vida na obra, o que nos mostra a sua posição perante o atraso de Portugal face ao progresso europeu, que é fortemente alimentado pelo Romantismo e Ultrarromantismo impregnados na sociedade sua contemporânea. Carlos e Ega são personagens que retratam os que criticavam afincadamente estas correntes artísticas, porém, inconscientemente, agiam de acordo com as mesmas. Assim, o autor segue a corrente Realista /Naturalista, que defendia que a arte e, especificamente, a literatura deveria desempenhar o seu papel de mudança de perspetivas e comportamentos, através da denúncia dos principais dilemas da sociedade.
Carlos e Ega são os “Vencidos da vida” d’Os Maias, também podemos considerar o Cruges, por exemplo, mas não é figura de destaque neste trabalho. Apesar de terem todas as condições para singrar na vida, nomeadamente a sua educação privilegiada e sua posição social elevada, Carlos e Ega são os “Vencidos da vida” d’Os Maias, já que nenhum conseguiu concretizar os projetos que iniciou, nem a nível pessoal, uma vez que no campo amoroso ambos falharam redondamente, Ega com Raquel Cohen e Carlos com Maria Eduarda, nem profissional, uma vez que os cursos que tiraram, Direito e Medicina, respetivamente, nunca chegaram concretamente à prática, apesar de algumas tentativas de Carlos. Para além disso, ambos mencionam e chegam mesmo a iniciar obras literárias, Memórias de um átomo, no caso de Ega, e Medicina antiga e moderna, no caso de Carlos, que viriam a ser, na perspetiva dos amigos, companheiros e intelectuais da época, um êxito, e cruciais para se dar uma mudança de paradigma, porém nunca as concluem, acabando por ficar apenas na projeção.
No Epílogo, onde este se torna um dos temas centrais da obra, apela-se diretamente e simbolicamente, sempre com um senso patriota, ao cessar da crise de valores e de costumes em que Portugal se encontrava encurralado.
Carlos e Ega formulam a que consideram ser a teoria da vida: “Nada desejar e nada recear…”. Após a exposição desta teoria, contradizem-na, correndo atrás do americano. O contraste entre o pensamento (nada os faria correr) com a ação de correr é também reveladora do seu falhanço na vida. Assim, a corrida de Carlos e de Ega no final, pode ser interpretada como um esforço tremendo (note-se o uso expressivo do advérbio “desesperadamente”) para sair da passividade e do pessimismo em que vivem, ou seja, a esperança da transformação de uma geração “vencida da vida”.
O amor em Os Maias e não só…
Eva Ferreira 11.º B | 27-05-2024
O amor é a mais bela experiência vivida pelo ser humano. “É fogo que arde sem se ver”, como refere o poeta Luís Vaz de Camões, é o combustível do homem, é o que impede as guerras e também o que as provoca, é um sentimento contraditório, azedo mas doce ao mesmo tempo, forte e débil, apaixonante e feroz.
Ao longo da história, o amor tem sido um tema controverso e alvo de discórdia. Para muitos, o amor é o sentimento mais puro que existe no mundo, para outros, o amor é algo que só se pode encontrar num mundo fictício. Para os que são mais dados às ciências, o amor não transcende uma reação química.
Em Os Maias de Eça de Queirós, o amor é um dos temas centrais, refletindo as complexidades das relações humanas e os valores sociais da época. Além disso, na obra, este sentimento é apresentado ao leitor como sendo um sentimento contraditório, podendo ser belo, mas ao mesmo tempo destrutivo, influenciando as ações dos personagens e as suas vidas.
A obra apresenta várias relações amorosas que são exploradas de forma profunda e muitas vezes trágica, sendo que há duas que se destacam. A primeira é a relação incestuosa de Carlos e Maria Eduarda, o ponto máximo do romance, sendo esta a intriga principal da obra. Com este amorio, Eça revela a ironia e a tragédia do destino dos personagens. Já a segunda, é a relação conturbada de Pedro e Maria Monforte, os pais dos dois protagonistas, sendo esta a intriga secundária. Ambas as relações amorosas são marcadas por paixões intensas e por desenlaces infelizes, refletindo a crítica de Eça à sociedade portuguesa do século XIX. Mas não nos podemos esquecer de outro romance presente na obra, a relação mimosa de Afonso da Maia e Maria Eduarda Runa, avós dos protagonistas, sendo este relacionamento marcado pelo respeito e pelo afeto de ambos os lados.
Eça de Queirós utiliza o amor não só como um elemento narrativo, mas também como uma ferramenta para criticar e satirizar a sociedade da época, enfatizando a hipocrisia, os valores distorcidos da elite lisboeta e o adultério. Um exemplo de adultério na obra é a relação secreta de Ega com Raquel Cohen. Ambos são condenados pela sociedade ao sair à luz o seu relacionamento, finalizando com a humilhação de Ega num espaço público e com a ida de Raquel, depois de ter sido agredida, para a Inglaterra com o marido. Outros exemplos de relacionamentos adúlteros presentes em Os Maias são a relação entre Tancredo e Maria Monforte, que acaba com a fuga de ambos com a pequena Maria Eduarda, destruindo o seu casamento e levando ao suicídio de Pedro. E por último, temos a relação entre Carlos e a Condessa de Gouvarinho, uma relação tórrida que acabou com a chegada de Maria Eduarda, levando a Condessa ao desespero e ao desequilíbrio emocional.
Assim, o amor em Os Maias é um reflexo de tensões sociais e morais, mantendo-se a importância da obra na atualidade devido à sua capacidade de explorar essas questões de um modo atemporal e universal.
Em que pensas, quando pensas em moda?
Marisa Raquel Ponce Dias, 11.º A | 27-05-2024
O conceito de moda, com o passar dos séculos, foi-se alterando de uma forma notória e significante. É um conceito muito relativo, uma vez que nem todos pensam de igual forma relativamente a este tema. Quando pensamos na palavra “moda”, surge-nos de imediato a ideia de um desfile, de um penteado, de uma peça de calçado ou de alguém famoso que nos suscita interesse. No entanto, será que se pensa na evolução pela qual o conceito de moda passou ao longo dos anos? Uma vez que me é possível imaginar uma resposta para esta pergunta, surgiu-me o interesse em abordar e explicar um pouco a evolução da moda desde o século XIX, quando Eça de Queirós escreveu a obraOs Maias, até aos dias de hoje.
Com a descrição tão detalhada de Eça de Queirós, é-nos fácil compreender que, naquele século, a moda era extremamente importante. As condições económicas, culturais e sociais são essenciais na identidade de cada período da civilização.
A obra Os Maias retrata a história de uma família lisboeta da alta burguesia, apontando os seus defeitos, vícios, costumes e virtudes. Os burgueses vestiam roupas caras, com qualidade superior e durabilidade maior enquanto as classes menos privilegiadas usavam trajes simples, sem cor e produzidos com tecidos ásperos e de forma caseira. Naquela época, se vissem alguém menos arranjado era imediatamente rotulado como sendo de uma classe social mais baixa. Deste modo, as classes sociais altas tinham um cuidado redobrado com a sua aparência, tanto homens como mulheres vestiam fatos e vestidos diferentes para cada ocasião: para dormir, para dar um passeio pela cidade ou pelo jardim, para as refeições ou para as festas.
Eça de Queirós refere-se muitas vezes a Maria Eduarda como sendo uma senhora bela e distinta, alta, loira, elegante, delicada, bem vestida, “flor de uma civilização superior” e, portanto, capaz de chamar a atenção, o que a destacava das restantes mulheres. A sua beleza fascinava tudo e todos por onde passava. Devido a estas características, quando Carlos da Maia viu Maria Eduarda pela primeira vez, apaixonou-se perdidamente por essa imagem de “deusa inacessível”, que deixava um rasto de brilho e que quase nem tocava com os pés no chão enquanto caminhava. Devido ao facto de Maria Eduarda reinar em todos os seus pensamentos, podemos concluir que, naquele tempo, a imagem era realmente muito importante e que condicionava a forma como se via as pessoas.
Mas será que a imagem, atualmente, continua a ser tão condicionante como no século XIX? A evolução da figura feminina foi acompanhada pela moda. O período entre guerras levou a que as mulheres começassem a trabalhar e a usar roupas mais práticas, leves e confortáveis, produzidas com tecidos antes utilizados somente no vestuário masculino. Libertou as mulheres do uso de espartilhos, incorporando as calças aos trajes femininos. Este tipo de roupa de uso fácil dispensou os serviços de uma criada e o cabelo mais curto descomplicou rituais de cabeleireiro e concedeu à mulher um espírito de liberdade. Na atualidade, em função do caráter volátil da moda, as coleções são substituídas rapidamente e os consumidores querem acompanhar as tendências. A função de indicar status social foi gradualmente alterada nas sociedades contemporâneas, para a de fator de construção da identidade do indivíduo, de acordo com os valores que cada pessoa cultiva.
Potência de 90 cavalos? O que significa?
Érica Rodrigues, 11.º A | 27-05-2024
Hoje em dia, as carruagens têm um papel simbólico no que toca ao turismo e a eventos tradicionais, mas em tempos já tiveram uma grande importância no transporte de pessoas e de mercadorias.
As carruagens existem desde as civilizações mais antigas e foram utilizadas até ao início da era moderna. O seu design varia de acordo com a cultura, o período histórico e o estatuto social. As carruagens estavam tão em alta na época de Eça de Queirós, que o autor, em Os Maias, nomeou algumas delas, para demonstrar a riqueza e o bom gosto das personagens principais, nomeadamente o de Carlos.
No livro de Eça, são nomeadas cerca de onze carruagens. O que têm em comum com os dias de hoje é que não serviam apenas para transportar pessoas, mas também transportavam correio e mercadorias. Nenhuma delas tinha sido fabricada em Portugal, ou seja, eram todas de marca estrangeira, o que acontece atualmente, pois há apenas um carro criado em Portugal, o “Adamastor”, com cerca de 650 cavalos.
A expressão “90 cavalos” refere-se a um carro rápido e não, não significa que seja puxado por 90 cavalos. Ainda hoje em dia, a potência dos motores é medida em cavalos: os que têm mais são designados de alta performance.
Fascina-me que, no século XIX, já houvesse carruagens com vidros de subir e descer, e também que algumas já tivessem o “pisca”. Sabemos bem que muitas pessoas se esquecem de o utilizar atualmente.
Um aspeto a ressaltar é que naquele tempo já existiam “ambulâncias”. Precisavam de ser carregadas por pessoas e nelas só cabia um doente. Atualmente, os bombeiros agradecem por não terem de carregar a ambulância.
Com isto, podemos concluir que as carruagens têm muitas parecenças com os carros, mas também muitas características que nós agradecemos terem evoluído.
“A classic is something that everybody wants to have read and nobody wants to read.” – Mark Twain