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A Páginas Tantas

Como é que se produzem frutos sem sementes?

As uvas sem grainhas são muito mais fáceis de comer. As laranjas-da-baía, desprovidas de sementes, evitam que se engula por acidente um desses carocinhos brancos. E as melancias sem sementes significam (infelizmente, na opinião de alguns) o fim dos concursos de cuspir pevides. Mas, se não existem sementes, de onde vêm as novas uvas, laranjas ou melancias?

Na natureza, os frutos nascem quando os óvulos da flor de uma planta são fertilizados pelas células espermáticas do pólen proveniente de outra planta da mesma espécie, normalmente transportado por uma oportuna abelha, vespa ou ave. O fruto resultante possui genes de ambos os progenitores, assim como um bebé humano possui genes da mãe e do pai.

Após a fertilização, tem início o desenvolvimento do fruto. E, dentro do fruto, estão as sementes de uma nova árvore, arbusto ou trepadeira. Mas a fertilização nem sempre é bem sucedida – ou necessária. Vejamos o exemplo das laranjas-da-baía. Sem outra variedade de laranjas com a qual polinizar-se, esta laranja não cria sementes. Contudo, mesmo sem fertilização, os frutos dessa espécie não deixam de se desenvolver. Mas como? Se não há sementes, de onde vêm as novas laranjeiras? Um pomar de laranjeiras-da-baía é, na realidade, uma grande coleção de clones. Nos Estados Unidos, a maioria dessas laranjeiras tem como origem duas árvores brasileiras introduzidas no país em 1870. As novas árvores são criadas a partir de rebentos das árvores existentes. Uma vez enxertados nos ramos de uma laranjeira diferente (caracterizada pela sua resistência às doenças), esses rebentos desenvolvem novas ramadas, que por sua vez produzirão novas laranjas-da-baía.

Já alguma vez comeste melancia sem sementes? Assim como uma mula é um híbrido de cavalo e burro, as melancias sem sementes são o resultado do cruzamento de duas variedades de melancia geneticamente diferentes. A melancia híbrida tem pevides mas, quando estas são plantadas, as melancias que daí resultam apresentam apenas sementes subdesenvolvidas e estéreis – ou seja, sementes que não dão origem a novas plantas. A vantagem é que nós podemos saborear uma fatia de melancia sem ter de estar sempre a cuspir pevides.

Quando as variedades de uvas sem grainhas são fertilizadas, os óvulos formam sementes subdesenvolvidas. Os seus consumidores não se apercebem delas, já que, ao contrário das grainhas normais, estas sementes não apresentam uma casca dura. Sempre que é necessária uma nova videira, os produtores limitam-se a criá-la com enxertos das videiras preexistentes.

O uso de técnicas como a enxertia e a clonagem permite aos produtores criar cópias ilimitadas da planta desejada. Desse modo, podem reproduzir, ano após ano, o mesmo fruto, com o mesmo tamanho, forma e sabor. Assim, as clementinas que comprares este Inverno podem ser praticamente idênticas àquelas que compraste no Inverno passado.

Os frutos bravos não apresentam esta ausência de diversidade genética, que envolve certos perigos. Tal como acontece com os animais clonados, algumas frutas sem sementes podem tornar-se vulneráveis devido à sua reprodução por enxertia, ano após ano.

Por exemplo, alguns cientistas receiam que as bananas estejam em risco de extinção, já que não possuem a necessária variedade de genes para resistirem a determinadas doenças ou às pragas de insetos. Alguns acreditam que só a engenharia genética poderá salvar a banana cultivada – o fruto mais popular em todo o mundo.

Fonte: Sabes o porquê à tua volta? Kathy Wollard. Gradiva Júnior.

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