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As células agem com um propósito?
A vida teve um impacto colossal no nosso planeta porque os organismos vivos fazem cópias de si mesmos que se podem multiplicar, disseminar, proliferar e diversificar. Durante quatro mil milhões de anos, um exército colossal de organismos vivos transformou a Terra e criou a biosfera: uma camada fina na superfície do planeta formada por organismos vivos e por tudo o que foi feito, alterado ou abandonado por esses organismos vivos.
O inquietante na vida é que, embora o interior de cada célula se assemelhe a um pandemónio — uma espécie de luta na lama que envolve um milhão de moléculas —, as células parecem agir com um propósito. Algo no interior da célula parece dirigi-la, como se estivesse a seguir uma lista de tarefas. A lista é simples: (1) permanecer viva apesar da entropia e dos ambientes imprevisíveis; e (2) fazer cópias de si mesma que possam fazer a mesma coisa. E assim continuamente de célula a célula, de geração em geração. Aqui, na procura de alguns resultados e na fuga a outros, estão as origens do desejo, do cuidado, do propósito, da ética e até do amor. Talvez até os começos do sentido, se isto significar a capacidade de discriminar a importância de diferentes acontecimentos e sinais.
A aparência — ou, talvez —, ilusão de propósito é nova. Faria sentido dizer que as estrelas têm um propósito? Ou os planetas, ou as rochas? Ou até o universo? Não, pelo menos segundo as convenções da história moderna da origem. No entanto, as coisas vivas são diferentes. Não aceitam passivamente as regras da entropia; ao invés, como crianças teimosas, recusam e tentam negociar. Não criam apenas estruturas, como os protões ou os eletrões. Não vivem de armazéns de energia, como as estrelas, que se sustentam de uma despensa de protões que estava bem guarnecida quando nasceram, mas que se desintegram quando a despensa fica vazia.
Os organismos vivos procuram constantemente novos fluxos de energia nos seus ambientes para se manterem num estado complexo, mas instável. Este não é o comportamento das rochas; é o da ave a voar. Os organismos vivos conseguem voar (em termos termodinâmicos) consumindo energia livre para criar a química elaborada que reorganiza os átomos e as moléculas nos padrões necessários para os manter vivos. Quando já não conseguem pagar os impostos de energia da entropia, despenham-se.
Energia e vida!
Fonte: A história da origem, David Christian
“Research is formalized curiosity.” – Zora Neale Hurston