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Que papel tem a informação na moderna história da origem?
A vida, com os seus esforços constantes de contrariar a entropia, representa um novo tipo e nível de complexidade. Por vezes, os teóricos da complexidade descrevem as entidades deste nível como sistemas adaptativos complexos. Ao contrário dos sistemas físicos complexos, cujos componentes se comportam de maneiras que podem ser normalmente previstas a partir das normas básicas de funcionamento do universo, os componentes dos sistemas adaptativos complexos têm vontade própria. Parecem seguir regras complementares mais difíceis de detetar. De facto, os sistemas adaptativos complexos, como as bactérias, um cão ou as empresas multinacionais, agem como se todos os seus componentes fossem agentes com vontade própria, de tal forma que cada componente está constantemente a ajustar-se ao comportamento de muitos outros componentes. E isto inclui comportamentos extremamente complexos e imprevisíveis.
O termo agente conduz a uma nova ideia que se tornará cada vez mais importante: a ideia de informação. Se os agentes reagirem a outros agentes, estão a reagir à informação sobre o que está a acontecer em seu redor, incluindo informação acerca do que outros agentes estão a fazer.
Se imaginarmos a informação como uma personagem da história moderna da origem, devemos pensá-la como a trabalhar infiltrada ou disfarçada, manipulando os acontecimentos, mas mantendo-se fora da vista. A energia causa mudança e, por isso, podemos vê-la em funcionamento, mas a informação orienta a mudança, geralmente a partir do escuro. Como diz Seth Lloyd: «Fazer alguma coisa requer energia. Especificar o que fazer requer informação.»
Na sua forma mais geral, a informação consiste em regras que afetam os resultados limitando as possibilidades. Uma das definições mais famosas de informação é «uma diferença que faz uma diferença». As regras determinam que mudanças, de todas as opções concebíveis, são possíveis num dado momento e lugar e que fazem uma diferença.
A informação começa com as leis da física, o sistema operativo básico, do nosso universo. As leis da física orientam a mudança em vias particulares, como as vias pelas quais a gravidade criou as primeiras estrelas. Neste sentido geral, a informação limita o que é possível e, portanto, reduz a aleatoriedade. É por isso que mais informação parece significar menos entropia, menos potencial para a desordem amada pela entropia. Esta é a informação universal: as regras integradas em qualquer pedaço de matéria e de energia. Ninguém precisa de dizer à gravidade o que esta tem de fazer; faz apenas o seu trabalho.
No uso coloquial, porém, o termo informação significa mais do que regras. Significa regras que são lidas por alguém, por algum agente ou por alguma coisa – de facto, por algum sistema adaptativo complexo. Este tipo de informação surge porque há muitas regras importantes que não são universais. Tal como as leis das sociedades humanas, mudam de lugar para lugar e de momento para momento. Enquanto o universo evoluía, apareceram novos ambientes, como o espaço profundo, as nuvens de poeira galáctica e as superfícies dos planetas rochosos. Estes ambientes tinham as suas próprias regras locais que não eram universais. As regras locais têm de ser lidas, descodificadas ou estudadas, da mesma maneira que temos de aprender em que lado da estrada se conduz antes de visitarmos a Mongólia.
Fonte: A história da origem, David Christian
“Research is formalized curiosity.” – Zora Neale Hurston