A Páginas Tantas
Que relação existe entre as emoções e a seleção natural?
À medida que os organismos se tornavam mais complexos, precisavam de mais informação sobre os seus ambientes. A seleção natural equipou os grandes organismos com um desejo de mais informação, pois a boa informação era vital para o sucesso. É por isso que, quando um humano resolve um puzzle, o cérebro recebe a mesma excitação que tem com comida e sexo.
A seleção natural também deu aos grandes organismos mais sensores e mais tipos de sensores: para som, pressão, acidez e luz. E a seleção natural desenvolveu um reportório cada vez maior de reações possíveis. Conforme a quantidade de inputs e de outputs aumentou, a fase de processamento tornou-se mais elaborada e mais células nervosas foram dedicadas a essa tarefa.
Nos animais, os nervos reuniram-se em nódulos, gânglios e cérebros, formando redes de interruptores como transístores, que ligavam centenas, milhões ou milhares de milhões de neurónios que podiam computar em paralelo. Isto permitiu-lhes representar características importantes do mundo exterior e até representar futuros possíveis. Nenhuma criatura com cérebro (nem nós) está em contacto direto com o seu ambiente. Ao invés, vivemos todos numa rica realidade virtual construída pelos nossos cérebros. Os nossos cérebros geram e atualizam constantemente mapas das características mais salientes dos nossos corpos e dos nossos ambientes, tal como os cientistas climáticos representam hoje as mudanças do ambiente. Estes mapas permitem-nos manter a homeostasia. Ajudam-nos a reagir adequadamente, na maioria das vezes, ao redemoinho infindável das mudanças que ocorrem ao nosso redor.
O processo de tomada de decisões funciona a vários níveis nas criaturas dotadas de cérebro. Outros mecanismos de tomada de decisões são mais lentos e mais ponderados, mas oferecem mais opções. Os simples interruptores ligar/desligar dos sensores de dor controlam muitos dos comportamentos, mesmo nos metazoários mais complexos.
Se puseres uma mão numa chama, irás retirá-la antes de pensares nisso. As emoções, dominadas pelo sistema límbico, também permitem a rápida tomada de decisões ao criarem predisposições e preferências que orientam muitas decisões importantes, que, na maioria dos casos, são corretas.
Charles Darwin compreendeu que as emoções evoluíram por meio da seleção natural para ajudarem os organismos a sobreviver. Um antílope que queira abraçar leões terá poucas probabilidades de transmitir os seus genes às crias.
As emoções mais básicas, as menos passíveis de controlo consciente parecem borbulhar dentro de nós. Incluem o medo e a fúria, a surpresa e o desagrado, e talvez também um sentimento de alegria. Predispõem-nos a reagir de maneiras específicas e enviam os sinais químicos que preparam os nossos corpos para correr ou para se concentrarem, para atacar ou para abraçar.
As emoções orientam a tomada de decisões em todos os animais dotados de grandes cérebros. Algumas emoções, como o medo, estão provavelmente presentes em todos os vertebrados e até talvez em alguns invertebrados, em particular nos mais inteligentes como os polvos. As preferências que as emoções criam por resultados e comportamentos particulares encontram-se na base do sentido humano de propósito e ética.
A faculdade a que costumamos chamar razão é apenas um dos muitos decisores biológicos. Pronuncia-se sobre decisões importantes se o cérebro for suficientemente grande, se houver tempo e se outros sistemas estiverem bloqueados e não puderem gerar respostas claras. Será que preciso de despender tanta energia a correr se isto não for mesmo um leão? O meu rival está a fazer ameaças vazias ou devo reagir?
Em conjunto, as sensações, as emoções e o pensamento criam o mundo interior e subjetivo que todos os humanos. O estado que descrevemos como consciência parece ser um modo de atenção fortemente concentrada convocada pelo cérebro, como um tribunal, quando é preciso tomar decisões novas, difíceis e importantes. Mas não é necessária para as decisões de rotina.
Se acrescentarmos a memória a estes sistemas de tomada de decisões, temos as fundações para a aprendizagem complexa, a capacidade de registar os resultados de decisões anteriores e de usar esses registos para tomar melhores decisões no futuro.
Fonte: A história da origem, David Christian
“Research is formalized curiosity.” – Zora Neale Hurston