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A Páginas Tantas

Como é composto o genoma humano?

Um organismo vivo é feito de água, gorduras, açúcares, minerais e sobretudo proteínas. Estas não são o constituinte mais abundante — este é um privilégio da água —, mas decerto são o mais importante. As moléculas determinam a estrutura do nosso corpo e as suas funcionalidades. Somos as nossas proteínas, tudo o resto é apenas roupagem.

A biologia resulta de um património genético que não muda. No entanto, esse património não é uma gravação que produz sempre a mesma melodia, mas, antes, um instrumento musical, capaz de gerar um número infinito de melodias.

O genoma é composto pelo ADN, que contém as informações para produzir as proteínas. Cada proteína tem o seu pedaço específico de ADN, a que chamamos gene. Os humanos têm cerca de 25 mil.

Em geral, quando pensamos no nosso genoma, imaginamos a parte que contém a informação para produzir as proteínas. Na verdade, esta, a que chamamos sequência codificante, constitui apenas 3% do ADN dos genes. Para que servem então os 97% do genoma em que nunca pensamos? Esta parte, a sequência reguladora, serve para determinar que proteínas são produzidas e em que quantidade.

Avaliar a importância das coisas pelo seu tamanho é muitas vezes enganador, mas não neste caso. A parte mais importante do nosso genoma, muitas vezes esquecida, é constituída pelos 97% do ADN de um gene, pela sua sequência reguladora.

Para nos convencermos disso, tomemos um homem e um rato, dois mamíferos muito diferentes. No entanto, as sequências codificantes dos seus genes são quase idênticas, em 99%. Parece impossível que 1% de diferenças genéticas possa gerar organismos tão distintos. Isto resulta do trabalho das sequências reguladoras.

Consideremos agora um segundo exemplo, mais impressionante do que o anterior, visto que se refere a entidades biológicas ainda mais diferentes do que um homem e um rato, mas com 100% do seu genoma absolutamente idêntico. Parece-vos impossível? Todavia, temos a prova mesmo à frente dos nossos olhos. Somos nós. Basta olhar-nos a um espelho para vermos que as nossas gengivas, a nossa língua, a pele do nosso rosto, os nossos olhos, nada têm que ver uns com os outros! As diferenças entre as partes do corpo tornam-se ainda mais espetaculares se abrirmos um livro de anatomia para descobrirmos o que se passa no interior do nosso organismo. Um pulmão, um coração, um rim, um fígado, um cérebro são mais diferentes entre si do que um homem e um rato. Estes dois mamíferos têm em comum, pelo menos, quatro extremidades, uma coluna vertebral, uma cabeça com dois olhos, um nariz e uma boca com dentes. A única coisa que aproxima um coração de um pulmão é o facto de possuirmos ambos. De contrário, poderíamos considerá-los originários de galáxias muito distantes. Se descermos ao nível microscópico, as diferenças entre uma célula muscular, uma célula do fígado, uma célula do sistema imunitário ou um neurónio não são menos impressionantes. Contudo, todos os órgãos e todas as células do nosso corpo dispõem exatamente dos mesmos genes. Mais uma vez, estas diferenças resultam do trabalho das partes reguladoras dos genes, que os fazem produzir proteínas distintas, dando origem a órgãos e a células que não se assemelham.

Fonte: Homo biologicus, Pier Vincenzo Piazza. Bertrand Editora.

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