A Páginas Tantas
A cigarra e a formiga
Era uma vez uma cigarra que vivia cantando, dançando e tocando. Não fazia outra coisa na vida.
Ali perto moravam as formigas, sempre trabalhando e guardando alimentos para o inverno.
O outono chegou e a cigarra continuou o seu canto, não dando ouvidos às formigas para que se preparasse para o inverno.
O inverno trouxe muito frio. A cigarra viu-se só e resolveu procurar alguém que lhe desse abrigo. Andou, andou até encontrar a casinha das formigas.
A Cigarra bateu à porta da Formiga:
— Vizinha! Ó vizinha!
Esperou, voltou a bater.
Finalmente, a porta abriu-se.
— Bom dia, vizinha! — saudou a Cigarra.
— Que queres com tanta gritaria? Estava a arrumar a despensa e ia caindo
do escadote com a pressa...
— Desculpa, — disse a Cigarra com voz doce, — mas preciso de salsa para o arroz. Não tenho nenhuma no quintal.
— Não me admira que não tenhas. Só te ouço cantar, — ralhou a Formiga. — Eu trabalho, ganho, poupo para o inverno.
— E quem te disse que eu não trabalho?
— É... um...enfim. É o que todos dizem. Eu ouço-te todo o dia.
A Cigarra alisou a saia vermelha bordada a fio de ouro e disse:
— Amiga! Nunca te passou pela cabeça que a música ajuda a trabalhar
melhor?
— Eu canto durante o trabalho, pois dá-me prazer cantar. O que faço sai bem feito. E estou sem me arreliar. De tudo é feita esta vida. E não só de trabalhar!
A Formiga olhava espantada.
Ter a alegria da Cigarra e o brilho dos seus olhos negros devia ser bom.
— És bem feliz! Não sei cantar!
— Aprendes, se aceitas a minha ajuda...
— Oh! Sim! Espera um pouco, vou buscar a salsa.
— Obrigada! — disse a Cigarra. — Quando queres começar a aprender as
minhas cantigas? Empresto-te a minha viola.
— Pode ser já hoje!
Depois do pôr-do-sol, juntaram-se a tocar e a cantar, para gozarem o descanso merecido. Os outros animais corriam a ouvi-las, deliciados...
Daí por diante tornaram-se amigas inseparáveis.
A Cigarra ajudava no trabalho e a Formiga aprendia a tocar e a cantar.
Ilustração: Giuliano Ferri

“Life itself is the most wonderful fairy tale.” – Hans Christian Andersen