Página 1 Página 2 Página 3 Página 4 Página 5 Página 6 Página 7 Página 8

A Páginas Tantas

As três peneiras

Verdade. Bondade. Necessidade.

O pequeno Raul saiu da escola a correr, chegou a casa muito excitado, e, depois de beijar a mãe, exclamou:
— Já sabes o que dizem do António?
— Espera um pouco, tem paciência. Antes de principiares, lembra-te das três peneiras…
— Mas quais peneiras, minha mãe?
— Sim; vais ouvir e saberás. A primeira chama-se verdade. Tens a certeza de que é certo o que me queres dizer?
— Não; se é certo, não sei.
— Vês?… E a segunda chama-se benevolência. Será benevolente, será boa, essa notícia?
— Não, minha mãe, não é boa.
— E a terceira chama-se necessidade. Será necessário repetires tudo isso que te contaram desse teu camarada e amigo?
— Não, minha mãe.
— Pois se não é necessário nem benevolente, e talvez nem seja verdade, entendo que é preferível, meu filho, calares a tua boca.

Adaptado de: Os contos de António Botto. Marginalia.

“The noblest pleasure is the joy of understanding.” ― Leonardo da Vinci