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Percurso do povo cigano até à Península Ibérica
1.ª Migração: entre 250 a.C. e 1400 d.C.
Os roma (rom no singular) são um conjunto de populações nómadas que têm, em comum, a origem indiana e uma língua, o romani, originária do noroeste do subcontinente indiano.
Presume-se que tenham começado a deslocar-se para o Ocidente entre os anos 500 e 1000. Atravessaram a Pérsia e a Arménia para alcançar o Império Bizantino, a Ásia Menor e, finalmente, a Grécia.
Os roma possuem uma base linguística comum que inclui elementos do vocabulário e da gramática grega.
A razão que os fez partir da Índia é, ainda hoje, um mistério. Ocorreu provavelmente no contexto das invasões do sultão Mahmud, de Gasni, uma região do atual Afeganistão.
Mahmud fez várias incursões no norte da Índia, capturando os povos que ali viviam. No inverno de 1019-1020, saqueou a cidade sagrada de Kannauj, que era então uma das mais antigas e letradas da Índia, capturando milhares de pessoas e vendendo-as em seguida aos persas. Estes, por sua vez, venderam os prisioneiros na Europa, como escravos.
No século XIV, devido à conquista territorial e política dos estados indianos, ocorreu uma segunda onda migratória, denominada Aresajipe. Muitas caravanas partiram para a Europa, Médio Oriente e Norte de África. Um primeiro grupo chegou à Europa através da Grécia; o segundo partiu para sul, alcançando o Império Bizantino, chegando à Síria, Egito e Palestina.
Instalação na Europa
A segunda fase da história dos roma abarca o período que vai da sua chegada à Europa, no século XV, aos eventos que tiveram lugar nos séculos XVI e XVII: servidão e escravatura, marginalização e perseguição.
A Portugal, os primeiros ciganos terão chegado em 1462.
No século XVII, foram expostos a novas formas de tratamento: internamento em Espanha e leis ordenando a assimilação forçada no Império Austro-Húngaro. Estes métodos contrastavam com os aplicados na Rússia, onde eram considerados como iguais entre os vários súbditos do czar, gozando de todos os direitos civis.
Segunda migração
Em meados do século XIX, um segundo movimento migratório iria mudar a população rom no mundo inteiro. Os kalderash, os lovari e outros grupos roma acabaram por se fixar na América e na Austrália.
Este segundo fluxo migratório resultou de mudanças sociais profundas, nomeadamente a abolição da escravatura no território que é a atual Roménia e o advento da industrialização. No início do século XX, na União Soviética, os roma começaram a ser tratados como um povo à parte, apesar de integrarem a sociedade.
Na Alemanha nazi, foram qualificados de “problema”, considerados “associais” e “radicalmente inferiores”. Foram detidos e assassinados no Reich alemão e nos territórios ocupados.
O genocídio marca uma rutura na história recente dos roma. Inúmeros grupos não superaram o Porajmos ou Samudaripen (genocídio cigano) até hoje.
A terceira migração e a luta pelos direitos humanos
O último movimento migratório dos roma de leste para oeste, no continente europeu, remonta à segunda metade do século XX. Esta terceira migração deveu-se a fatores externos.As guerras, as mudanças políticas e as crises económicas levaram muitas pessoas a abandonar os seus países de origem. No caso dos roma, acrescenta-se a existência de uma discriminação aguda em todos os domínios da vida quotidiana.
Durante a década de 1970, emergiram organizações roma nacionais e locais, que desenvolveram esforços consideráveis para lhes garantir representação política a nível internacional.
O 2.º Congresso Mundial Rom decorreu em 1978 e deu origem à URI – União Internacional Romani –, que integrou a UNICEF em 1986.
Ilustração: Daniel Belchí Lorente
“The truth is rarely pure and never simple.” – Oscar Wilde