A Páginas Tantas
Identidade
Imagina um mundo no qual as pessoas não têm um endereço fixo, documentos ou conta bancária. Um mundo no qual as vidas se situam à margem, como se não existissem. Um mundo em que a única certeza é que nunca faltará preconceito e incompreensão, medo e fascínio, injustiças e alegrias ao longo de uma interminável jornada. Bem-vindo ao mundo cigano.
Ou melhor: à imagem que os não ciganos têm dele. O universo cigano é tão antigo e extenso, tão cheio de crenças e histórias que nem mesmo o seu próprio povo conhece bem o limite entre facto e lenda. É que o nome “cigano” designa muitos povos espalhados pelo mundo. Povos com diferentes cores, crenças, religiões, costumes e rituais.
A história dos ciganos é baseada em suposições. E a razão é simples: faltam documentos. Os ciganos são um povo sem escrita. Os seus antepassados não deixaram registos que pudessem explicar as suas origens e os seus costumes. As tradições são transmitidas oralmente. Os ciganos vivem o presente, não se interessam pelo passado. O conceito quase inexistente de propriedade e a forma como lidam com a morte, eliminando todos os pertences do falecido, dificultam a pesquisa.
Definir a identidade cigana é mais difícil do que parece. Subdivididos em três principais grupos – rom, caló e sinti –, não constituem um povo homogéneo. Nem todos são nómadas. Nem todos falam romani. Nem todos usam roupas coloridas. Podem ser pobres ou ricos. Podem ser cristãos, muçulmanos ou judeus. O que faz deles um povo é uma sensação comum de não serem gadgés – como chamam aos não ciganos.
Não gostam de se submeter a leis e a regras que não sejam as deles. Prezam, acima de tudo, a liberdade. Assim, podem até estabelecer-se num lugar, mas procuram morar numa mesma rua ou, de preferência, em acampamentos onde possam preservar a autonomia e manter a unidade familiar. É em torno da família que uma comunidade cigana se organiza.
Há um líder, sempre um homem, nomeado por mérito e não por herança. Deve ser um bom interlocutor, além de ter habilidade para resolver os problemas internos do acampamento. É ele quem dita as regras, divide as tarefas, cria as leis do grupo.
A sociedade cigana é patriarcal. Quando se casa, o homem é o responsável pelo sustento do lar. A mulher passa a morar com a família do marido e deve cuidar dele, dos sogros, da casa e dos filhos, o que acontece cedo, ainda na adolescência.
Como são um povo sem escrita, as leis ciganas são regidas com base na palavra dada.
Fonte do texto: super.abril.com.br / Ilustração: Daniel Belchí Lorente
“Education is the most powerful weapon which you can use to change the world.” – Nelson Mandela