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Mudanças climáticas
Os cabeçalhos dos jornais têm sido, no mínimo, angustiantes.
“Alguns peritos acreditam que a humanidade se encontra no limiar de um novo padrão de clima global adverso para o qual está mal preparada”, declarava um artigo do New York Times, citando investigadores do clima que afirmavam que “esta mudança climática apresenta uma ameaça para a população mundial”.
Um artigo da revista Newsweek advertia que a mudança climática “iria obrigar a ajustamentos económicos e sociais à escala mundial”. Pior ainda, “os climatologistas não acreditam que os líderes políticos empreendam medidas positivas para contrabalançar a mudança climática ou até mesmo para atenuar os seus efeitos”.
Quem, em seu pleno juízo, não ficaria assustado com o aquecimento global?
Mas não é disso que estes cientistas estão a falar. Estes artigos, publicados em meados da década de 1970, estavam a prever os efeitos do arrefecimento global.
As campainhas de alarme tinham soado quando a temperatura média do solo no hemisfério norte tinha baixado cerca de 0,26º entre 1945 e 1968. A Newsweek relatou que, embora o decréscimo de temperatura fosse relativamente reduzido em termos absolutos, “aproximou ainda mais o planeta da média da Idade do Gelo”.
O maior receio era o colapso do sistema agrícola. Em Inglaterra, o arrefecimento encurtara já a estação de cultivo em duas semanas. “A fome daí resultante poderia ser catastrófica,” advertia o artigo. Alguns cientistas propuseram soluções radicais de aquecimento.
Claro que hoje em dia a ameaça é ao contrário. Já não se considera que o planeta seja demasiado frio, mas demasiado quente.
Existe hoje um consenso entre os cientistas ambientais de que a temperatura do planeta tem estado a aumentar e um consenso cada vez mais generalizado de que a atividade humana tem desempenhado um papel importante no aquecimento global. Mas a forma como o ser humano afeta o clima nem sempre é tão óbvia como parece.
Existe uma crença generalizada de que os automóveis, os veículos pesados e os aviões contribuem com uma quota atroz de gases de estufa, mas a expiração, flatulência, eructação e excrementos dos animais ruminantes – como as vacas ou as ovelhas – emitem metano, o qual, segundo uma medida comum, é cerca de vinte e cinco vezes mais potente como gás de estufa do que o dióxido de carbono emitido pelos automóveis. Os ruminantes existentes a nível mundial são responsáveis pela emissão de mais de 50% dos gases de estufa do que todo o setor dos transportes.
O aquecimento global é um problema particularmente espinhoso, por uma série de razões.
Em primeiro lugar, os climatologistas não podem realizar experiências. Neste aspeto, parecem-se mais com os economistas do que com os físicos ou os biólogos, já que o seu objetivo consiste em extrair relações de dados existentes, mas sem poderem, digamos, apelar a uma proibição dos automóveis – ou das vacas e ovelhas – durante dez anos.
Em segundo lugar, a ciência é extraordinariamente complexa. O impacto de qualquer atividade humana específica depende de muitos fatores diferentes e nem os modelos climáticos mais sofisticados conseguem representar de forma eficaz essas variáveis, o que torna as previsões climáticas futuras muito difíceis.
Dada a imprecisão inerente à ciência do clima, é-nos impossível saber com um certo grau de certeza se o nosso caminho atual irá provocar um determinado aumento de temperatura. E também não sabemos se mesmo uma subida acentuada significa uma inconveniência ou o fim da civilização como a conhecemos.
Fonte: Dubner, S. J., & Levitt S. D. (2010). Super Freakonomics. Presença. / Ilustração: Flavio Remontti
“The best way to predict the future is to create it.” – Abraham Lincoln