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A Páginas Tantas

A tabela periódica

Na segunda metade do século XIX, a química estava num estado bastante caótico e todos viram com bons olhos o aparecimento, em 1869, de um professor da universidade de São Petersburgo, um excêntrico com ar de louco chamado Dmitri Ivanovich Mendeleyev.

Mendeleyev nasceu em Tobolsk, na Sibéria, numa família educada, razoavelmente próspera e muito grande — tão grande que a história já perdeu a noção do número de Mendeleyev que existiram: alguns dizem que havia 14 filhos, outros 17, mas todos estão de acordo em que Dmitri era o mais novo. Aluno aplicado, completou devidamente os estudos. Na universidade, revelou-se um químico competente, mas não extraordinário, mais conhecido pelo cabelo desgrenhado e pela barba hirsuta, que só aparava uma vez por ano, do que pelos seus dotes de laboratório.

Em 1869, começou a especular sobre uma forma de ordenar os elementos. Na altura, os elementos eram geralmente agrupados de duas maneiras: ou em função da sua massa atómica — o número de protões mais neutrões no núcleo de cada um dos seus átomos — ou pelas propriedades comuns — se eram metais ou gases, por exemplo. A grande conquista de Mendeleyev foi perceber que ambos os métodos podiam ser combinados numa única tabela.

Como acontece muitas vezes em ciência, o princípio já fora descoberto três anos antes por um químico amador inglês chamado John Newlands. Mendeleyev juntou os elementos em grupos de sete, mas usou fundamentalmente o mesmo princípio de Newlands.

Como as propriedades se repetiam periodicamente, a invenção recebeu o nome de tabela periódica. Mendeleyev dispôs os elementos em linhas horizontais, a que chamou períodos, e colunas verticais a que chamou grupos. Este sistema mostrava instantaneamente uma série de relações quando lido de cima para baixo, e outra quando lido na horizontal.

Especificamente, as colunas verticais agrupam os elementos químicos com propriedades semelhantes. As linhas horizontais, por seu turno, ordenam os elementos químicos por ordem ascendente, segundo o número de protões do respetivo núcleo, designado como número atómico. O hidrogénio só tem um protão, portanto, o seu número atómico é 1, pelo que é o primeiro a aparecer na tabela; o urânio tem 92 protões, vem quase no fim e o seu número atómico é 92.

No final do século XIX, havia ainda muito para saber e compreender. O hidrogénio é o elemento mais comum no universo e, no entanto, só daí a 30 anos é que alguém se iria aperceber disso. Mas, graças à tabela de Mendeleyev, a química assentava agora numa base sólida. Aos químicos, a tabela periódica transmitiu uma sensação de ordem imediata cuja importância é difícil subestimar.

No tempo de Mendeleyev só se conheciam 63 elementos, mas justamente, o golpe de inteligência dele foi ter percebido que os elementos conhecidos não representavam o quadro completo, e que havia várias peças que faltavam. A tabela previa com notável precisão onde se encaixariam os novos elementos quando fossem descobertos.

Ninguém sabe quantos mais elementos podem aparecer, embora um peso atómico acima de 168 seja considerado “puramente especulativo”, mas o certo é que qualquer um que apareça encaixar-se-á na perfeição na extraordinária tabela de Mendeleyev.

Bryson, B. (2021). Breve história de quase tudo. Bertrand Editora.
Ilustração: Marián Meza

“The science of today is the technology of tomorrow.” – Edward Teller