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Piratas e corsários
A existência dos piratas remonta à antiguidade. Há cerca de cinco mil anos, no tempo em que as nações começavam a comercializar o que produziam, havia quem arriscasse a vida para se apoderar dos carregamentos de cobre, ouro, madeira, especiarias ou pedras preciosas.
O Mediterrâneo, berço do comércio do mundo ocidental, foi um dos mais antigos cenários da pirataria. Desde o século XII antes da nossa era, os Filisteus, “os povos do mar”, surgiam dos seus abrigos para atacar a frota egípcia, travando as primeiras batalhas navais conhecidas. Quase na mesma época, os Fenícios, exploradores e colonizadores, praticavam o comércio de escravos e a pirataria.
Barba Negra foi um dos mais célebres piratas de todos os tempos, no entanto nem todos foram tão cruéis e temíveis como ele. Os múltiplos nomes que os designam, bandidos, corsários, bucaneiros, flibusteiros, sublinham as diferenças que os separavam. Em caso de captura, a vida ou a morte de cada um podia depender disso. A palavra pirata vem do grego peiratès e do latim pirata, e significa aquele que ousa, que tenta a sorte e que ataca.
Um pirata trabalhava por conta própria, armava o seu próprio navio, atacava navios de todas as nações e guardava para si aquilo que pilhava. Conforme as épocas e os países, tomou o nome de flibusteiro ou de bucaneiro.
Quaisquer que tenham sido os seus nomes, todos os piratas eram ferozmente independentes. É preciso, contudo, estabelecer uma distinção entre eles e os “capitães de corso”, ou “corsários”, navegando com documentos oficiais, as “cartas de corso”. Estes documentos permitiam aos capitães, em tempos de guerra, atacar todos os navios inimigos, mas não neutros. Todavia, mesmo em tempo de paz, não era raro que alguns governos, ou particulares ricos, armassem navios “em corso”, para depois partilhar o espólio. Isto era, de certa forma, uma espécie de pirataria legal.
As palavras “corsário” e “corso” derivam ambas do latim cursus, que significa corrida de velocidade, e o termo “corsário” aplicava-se tanto aos navios como aos homens das tripulações. Mas, uma vez mais conforme a época e o lugar, a palavra pode ter sentidos diferentes.
Piratas famosos
A aventureiros como Francis Drake e John Hawkins foram confiados os mais altos postos de comando na frota inglesa que derrotou a Invencível Armada Espanhola, em 1588. Um século mais tarde, oficiais corsários franceses levaram os seus navios à vitória, contra a Grã-Bretanha e os Países Baixos. Todos estes homens, vindos de nações e de meios muito distintos, tinham em comum o gosto pela aventura no mar alto, gosto ao qual dedicaram a sua vida e, em muitos casos, a sua morte.
Bartholomeu Roberts, o último dos grandes capitães piratas, morreu em 1722 a bordo do seu navio. Estava vestido com uma elegância ostensiva, empunhava um sabre e tinha dois pares de pistolas suspensos de uma faixa de seda. Exibia um luxo inacessível aos homens da sua tripulação. Mas, desde cedo, numerosos piratas empenharam-se em cultivar o seu aspeto característico. Com os seus bigodes de conquistadores, os lenços de pescoço, vermelhos, uma venda sobre um dos olhos, anéis de ouro nas orelhas e nos dedos, uma temível exibição de pistolas e facas, tinham a certeza de não passarem despercebidos. A sua presença nas ruas e nas tabernas dos pequenos portos de pesca provocava sempre as mesmas reações. Os habitantes pacíficos trancavam as portas com ferrolhos duplos, rogando aos céus para não se cruzarem com eles.
Uma tripulação de piratas podia ser formada por tipos duros, rudes no falar, bêbados e brigões, mas nem por isso deixava de ser submetida a uma disciplina severa. O regulamento era fixado pelos “artigos”, definindo a obediência aos oficiais, o tratamento dos prisioneiros, a partilha do espólio roubado e as tarefas quotidianas a bordo dos navios. Os oficiais eram eleitos democraticamente, os motins eram raros.
A cobardia, a desobediência e a deserção eram castigadas com a morte. A disputas pessoais liquidavam-se em duelos com sabre ou pistola. Por vezes, os piratas indisciplinados eram abandonados numa ilha deserta. Brutais e sem piedade, ou corajosos patriotas, todos eles foram, ao longo de três séculos, os senhores dos mares.
Fonte do texto: John Gilbert, Piratas e corsários. / Ilustração: Adilson Farias
Under a black flag we sail and the sea shall be our empire.