A Páginas Tantas
Sabias que o golpe de Estado do 25 de Abril de 1974 ficou conhecido como a “Revolução dos Cravos”?
Diz-se que foi uma revolução porque alterou a política do país. No entanto, não houve o nível de violência habitual das revoluções. O povo ofereceu cravos aos militares, que os colocaram nos canos das armas.
O golpe de Estado do 25 de Abril pôs fim ao regime autoritário do Estado Novo. Enquanto na Europa outros países avançavam e progrediam em democracia, Portugal vivia numa ditadura que mantinha o país fechado a novas ideias.
A escolaridade obrigatória era de seis anos, mas muitas crianças só frequentavam a escola até à 4.ª classe, o atual 4.º ano. Isto quer dizer que começavam a trabalhar com apenas dez anos de idade. Já imaginaste? Era difícil continuar a estudar, porque a maioria das famílias era muito pobre.
Na escola, cantava-se o hino e, na sala de aula, havia um crucifixo e um retrato do presidente do Conselho de Ministros. A escola não tratava todos os alunos como iguais. Quando um aluno desobedecia ou tinha dificuldades em aprender, era colocado num canto, virado para a parede.
A violência física e psicológica era aceitável. Os professores podiam dar castigos severos aos alunos e bater-lhes com uma régua ou uma cana. Havia turmas de meninos e turmas de meninas, que também estavam separados no recreio.
Os homens eram obrigados a ir à tropa, numa altura em que decorria a Guerra Colonial, e era a censura, conhecida como “lápis azul”, que escolhia o que as pessoas liam, viam e ouviam nos jornais, na rádio e na televisão.
Os países estrangeiros que, no início, apoiavam a política de António de Oliveira Salazar, começaram a fazer pressão sobre Portugal. Em 1968, Marcello Caetano substituiu-o, mas o sistema político não mudou. Quem estava descontente não podia mostrá-lo abertamente.
A solução acabou por vir do lado de quem fazia a guerra: os militares. Cansados dos conflitos nas colónias portuguesas e da falta de liberdade, criaram o Movimento das Forças Armadas (MFA). Depois de um golpe falhado a 16 de Março de 1974, o MFA decidiu avançar.
O major Otelo Saraiva de Carvalho elaborou o plano das operações militares e, na madrugada de 25 de abril de 1974, a operação tomou conta dos pontos mais importantes da cidade de Lisboa, em especial o aeroporto, a rádio e a televisão.
As forças do MFA, lideradas pelo capitão Salgueiro Maia, cercaram e tomaram o quartel do Carmo, onde se refugiara Marcello Caetano. Rapidamente, o golpe de estado militar foi bem recebido pela população portuguesa, que saiu à rua sem medo.
Depois de afastados todos os responsáveis pela ditadura em Portugal, o MFA libertou os presos políticos e acabou com a censura na imprensa. E assim começou um novo período da nossa história.
Ilustração: Raquel Costa
“Revolution is not a one time event.” – Audre Lorde