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A Páginas Tantas

Entre Cá e Lá. Capítulo 4

O livro Entre Cá e Lá conta a história de Acúrsio Baluarte Barrabás, natural de Olivença. Vamos acompanhá-lo, primeiro como contrabandista e depois como fantasma, ao longo de 1319 quilómetros, e atravessar os muros e baluartes das fortalezas de Almeida, Elvas, Marvão e Valença.

À conta da minha destreza a cruzar e descruzar linhas imaginárias, fui até Valença do Minho ajudar os meus primos a montar uma operação de contrabando de polvos. A missão era perigosa por causa do cheiro tentacular e porque se tratava de uma afronta pessoal contra o ditador gastronómico de Portugal.

Em toda a raia nortenha, de Caminha a Freixo de Espada à Cinta, a tradição diz que na ceia de Natal se come polvo cozido, mas Salazar queria que os portugueses comessem apenas bacalhau, por causa dos investimentos do governo português na frota bacalhoeira. Como o polvo vinha dos mares da Galiza, entre novembro e dezembro, além da Guarda Fiscal, havia o dobro dos apalpadores a controlar quem atravessava a fronteira. Sim, havia uma profissão que consistia em apalpar quem cruzava a fronteira, à procura de produtos escondidos.

Éramos cinco a atravessar o Minho durante a noite, cada um com 50 quilos de polvo atado por um cordel, que deixávamos escondido em pequenas ilhotas. Depois, durante o dia, voltávamos a essas ilhas vindos do lado português para pescar sabogas ou salmões e colocávamos os polvos no fundo dos baldes, sem levantar narizes ou suspeitas. Era um sistema de génio, nas barbas de carabineros e guardas.

Numa dessas noites, entrei numa padaria de Valença para matar a fome com uma borona de milho e saí de lá amassado, à conta de um olhar verde que não era deste mundo nem do outro.

Voltei todos os dias com presentes difíceis de encontrar naquela época, cereais, amêndoas, castanhas e bolachas estrangeiras. Jogos de cama e bibelôs não, isso levava para o outro lado.

No começo, ela falava pouco e torcia o nariz às minhas oferendas, mas depois de romper a côdea de timidez, contou-me que dominava várias línguas: castelhano, português, hebraico e uma língua em extinção, o haquitia. Ao fim de uma semana, soube o seu nome: Maruja Albukrek.

Ricardo Henriques, Entre Cá e Lá. Ilustração: Amalteia


Atividades

  1. Encontra as palavras ocultas na Sopa de Letras.

  2. Completa as palavras cruzadas.

  3. Lê as frases e assinala verdadeiro ou falso.

  4. Encontra o caminho através do labirinto

“We are all from small towns. But we dream big!” – Avijeet Das