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A época de Gil Vicente
Gil Vicente nasceu no reinado de D. Afonso V, por volta de 1465, e
faleceu entre 1536 e 1540. Testemunhou as lutas políticas do reinado de
D. João II, a descoberta da costa africana, a chegada de Vasco da Gama à
Índia, o fausto da corte de D. Manuel I, a construção dos Jerónimos e,
finalmente, durante o reinado de D. João III, o estabelecimento em
Portugal da Inquisição, da Companhia de Jesus e de um ambiente
simultaneamente austero e hipócrita. Viveu durante a época do reforço do
poder real.
Gil Vicente foi influenciado pela época de prosperidade que o país atravessou em meados do século XV, mas também acabou por vivenciar a fase em que o bem-estar cedeu lugar à apatia política, quando Portugal se deixou dominar pela aristocracia feudal e clerical.
Ignora-se a sua profissão e condição social. Ignora-se onde e como passou a juventude. As opiniões dos seus biógrafos dividem-se. Alguns dão-no como ourives, além de dramaturgo. O certo é que durante cerca de trinta e cinco anos, Gil Vicente foi, nas cortes de D. Manuel I e de D. João III, uma espécie de organizador dos espetáculos palacianos, com o encargo de festejar nascimentos e casamentos, chegadas e partidas de reis e príncipes e os dias solenes na corte, como o Natal e a Páscoa. Os seus autos nasceram das festividades palacianas, comemorando o primeiro deles – o Monólogo da Visitação – o nascimento do futuro rei D. João III em 1502.
É certo também que alcançou uma situação de prestígio nas cortes de D. Manuel e de D. João, o que lhe permitiu certas liberdades e audácias.
Gil Vicente soube aproveitar a sua situação na corte para uma crítica atrevidíssima de diversos vícios sociais, especialmente relativos à nobreza e ao clero.
Saraiva, A. J. (1984). Teatro de Gil Vicente. Manuscrito.
Vicente, G. (2001). Teatro de Gil Vicente. Ulisseia.
Glossário
Austero: rígido, severo.
D. Afonso V: décimo segundo Rei de Portugal, cognominado o Africano pelas conquistas no Norte de África. Filho de Duarte I, sucedeu-o em 1438, com apenas seis anos.
D. João II: décimo terceiro Rei de Portugal. Filho do rei Afonso V, acompanhou o pai nas campanhas em África, onde foi armado cavaleiro. Enquanto D. Afonso V enfrentava os castelhanos, o príncipe assumiu a direção da expansão marítima portuguesa.
D. João III: décimo quinto Rei de Portugal. Filho de Manuel I de Portugal, sucedeu-o em 1521, aos 19 anos. Herdou um império vastíssimo e disperso, nas ilhas atlânticas, costas ocidental e oriental de África, Índia, Malásia, Ilhas do Pacífico, China e Brasil. Continuou a política centralizadora do pai.
Fausto: luxo, ostentação de riqueza, esplendor.
“Mais vale um asno que me carregue do que um cavalo que me derrube.” – Gil Vicente