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A Páginas Tantas

A idade da Terra

Se comparado com uma vida humana, ou mesmo com toda a história da humanidade, o nosso planeta é muito, muito velho. Mas que idade tem?

Ilustração: Claudio Cerri

Há cerca de mil anos, o pensador chinês Shen Kuo foi um dos primeiros a sugerir como se formam as rochas. Observou que, muitas vezes, eram estratificadas e continham formas que pareciam animais de pedra, a que hoje chamamos fósseis. Concluiu que as rochas podiam ter-se formado a partir de camadas de areia e lama que se teriam depositado no fundo do mar.

No século XVII, a maioria dos europeus acreditava nos ensinamentos religiosos sobre a idade da Terra. Baseando-se no estudo da Bíblia, essa idade estimava-se em 6000 anos. No entanto, quanto mais se estudavam as rochas, mais se concluía que o planeta tinha que ser mais antigo.

No final do século XVIII, já se conhecia com exatidão a forma e as dimensões da Terra, a distância a que se encontrava do Sol e dos outros planetas e o peso que tinha. Deves pensar que seria relativamente fácil calcular a sua idade. Não foi! Os cientistas ainda iriam dividir o átomo e inventar a televisão, o nylon e o café instantâneo antes de descobrirem a idade do planeta em que vivemos.

Uma das questões que confundia as pessoas há muito tempo era a mesma que tinha intrigado Shen Kuo: porque motivo se encontravam tantos fósseis marinhos nas rochas e nos cumes das montanhas?

Coube a um brilhante cientista escocês, James Hutton, desvendar o mistério.

Hutton, conhecido por todos como um homem de inteligência arguta, não tinha rival no que tocava à compreensão dos misteriosos processos que intervieram na formação da Terra. Porém, era incapaz de formular as suas ideias de forma a serem minimamente compreensíveis. Como observou um dos seus biógrafos: “Cada linha que escrevia tinha notórios efeitos sedativos”.

O facto é que, praticamente sozinho e de forma brilhante, James Hutton estabeleceu a geologia enquanto ciência e transformou a nossa compreensão da Terra. Observando os seus próprios terrenos de cultivo, verificou que o solo era criado pela erosão das rochas. Partículas deste solo eram continuamente arrastadas para longe e depositadas por rios e riachos noutros lugares. Deduziu que, levado até ao limite, esse processo acabaria por desgastar o planeta até este ficar liso. No entanto, à sua volta, Hutton via montes e elevações. Deduziu que os fósseis marinhos que se encontravam nos cumes das montanhas não tinham sido arrastados por inundações marinhas, mas tinham chegado aí arrastados pelas próprias montanhas. Também deduziu que era o calor no interior da Terra que criava novas rochas e continentes e impulsionava as cadeias montanhosas.

As teorias de Hutton sugeriam que os processos que moldavam a Terra necessitavam de períodos de tempo muito vastos e que, consequentemente, o planeta era muito mais antigo do que alguém sonhara.

A ciência, no entanto, levaria ainda 100 anos a encontrar uma resposta definitiva para o problema.

Em 1896, o físico francês Henri Becquerel descobriu a radioatividade. Pouco depois, Ernest Rutherford e Bertram Boltwood desenvolveram a datação radiométrica, uma forma de usar a radioatividade para calcular a idade das rochas. Rutherford testou uma porção de minério de urânio e descobriu que este tinha uma idade muito superior àquela que as pessoas estavam preparadas para atribuir ao planeta que habitavam.

Na década de 1950, os cientistas concluíram que a Terra tem cerca de 4,55 mil milhões de anos.

Para saberes mais sobre o nascimento da geologia, lê o capítulo 5 de Breve história de quase tudo, de Bill Bryson, páginas 74-88.

Fonte: Bryson, B. (2004). Breve história de quase tudo. Quetzal Editores.

“Geologists are never at a loss for paperweights.” – Bill Bryson