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A Páginas Tantas

O puzzle da Terra

Já reparaste que, num mapa do mundo, alguns continentes parecem encaixar uns nos outros, como se fossem peças de um puzzle? Bem, há milhões de anos, encaixavam mesmo.

Ilustração: Claudio Cerri

No início do século XX, os geólogos já tinham determinado a idade da Terra através do estudo das suas rochas e fósseis, mas ainda estavam longe de desvendar todos os seus segredos. Um meteorologista alemão, Alfred Wegener, não percebia porque é que certos fósseis de animais apareciam repetidas vezes em lados opostos de vastos oceanos, claramente impossíveis de atravessar a nado.

Em 1911, Wegener constatou que, além da linha costeira, alguns dos mesmos fósseis foram encontrados na região leste da América do Sul e África Ocidental, sugerindo uma anterior união. As cadeias montanhosas e as jazidas de carvão também eram as mesmas ao longo da fenda.

Wegener desenvolveu a teoria de que os continentes haviam sido, em tempos, uma massa terrestre única, a que chamou Pangeia. Aqui, plantas e animais tinham vivido juntos antes de serem separados e flutuarem até às suas posições atuais. Infelizmente, Wegener não conseguiu explicar de modo convincente porque é que as massas de terra se haviam deslocado e a maior parte dos cientistas continuou a acreditar que os continentes tinham ocupado desde sempre a mesma posição. Só na década de 1950 novas descobertas corroboraram as afirmações de Wegener.

Primeiro, o geólogo americano Maurice Ewing descobriu um enorme sistema de cristas vulcânicas submarinas no leito de todos os oceanos do mundo. E Harry Hess, um outro cientista americano, constatou que as rochas do fundo do mar eram mais recentes do que as rochas terrestres.

Hess concluiu que a rocha fundida que brotava das cristas oceânicas formava um novo fundo do mar. Este alastrou, empurrando os continentes de cada lado. Durante milhões de anos, os continentes tinham-se deslocado pelo globo.

Em 1963, com base nos registos de estudos magnéticos do fundo do oceano Atlântico, ficou demonstrado de forma conclusiva que os fundos marítimos estavam a alastrar e que os continentes se deslocavam. O fundo do oceano Atlântico, por exemplo, funcionava como dois grandes tapetes rolantes, um deles transportando crosta para a América do Norte e outro para a Europa. Em ambos os lados do rifte central, formava-se uma nova crosta oceânica que, em seguida, era empurrada para longe à medida que chegava mais crosta. Quando alcançava o fim da sua viagem, na fonteira dos continentes, tornava a mergulhar no interior do planeta.

Em 1968, com a publicação de um artigo de três sismógrafos no Journal of Geophysical Research, os segmentos receberam o nome pelo qual são conhecidos desde então: placas. E o mesmo artigo chamou à nova ciência «tectónica de placas». Esta explica não só a dinâmica da superfície da Terra, mas também muitas das suas atividades internas. Os terramotos, a formação de cadeias de ilhas, o ciclo do carbono, a localização das montanhas, o aparecimento de idades do gelo e as origens da própria vida. Os geólogos sentiam-se estonteados com a ideia de que, de repente, a terra inteira fazia sentido.

Fonte: Bryson, B. (2004). Breve história de quase tudo. Quetzal Editores.

“There are three stages in scientific discovery. First, people deny that it is true, then they deny that it is important; finally they credit the wrong person.” – Bill Bryson