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A Páginas Tantas

A teoria da seleção natural

Há 200 milhões de anos, os dinossauros habitavam a Terra e não existiam pássaros, cobras ou seres humanos. Conhecemos a vida passada graças aos fósseis. Mas porque mudaram os seres vivos?

Ilustração: Maribel Lechuga

Charles Darwin nasceu em Inglaterra a 12 de fevereiro de 1809. Era um rapaz esperto e curioso, mas pouco estudioso. Tinha um passatempo: colecionava tudo o que encontrava — selos, carimbos, mas sobretudo conchas e minerais. Na escola, o seu aproveitamento era médio. O jovem Darwin tinha dificuldade em obedecer a regras. Em vez de estar fechado no edifício sombrio da escola, preferia vaguear ao longo do rio e observar o voo dos pássaros.

Aos dezassete anos, o pai inscreveu-o na faculdade de medicina de Edimburgo. No 3.º ano, enquanto assistia a uma operação, não conseguiu suportar o sangue e os gritos do paciente. Na época, a anestesia ainda não tinha sido inventada, assim como as batas e os bisturis esterilizados. Por isso, abandonou Edimburgo e foi inscrito à força na universidade de Cambridge, onde a sua paixão pela natureza foi encorajada por dois docentes.

Em 1831, um deles, John Stevens Henslow, fez-lhe uma proposta irrecusável: embarcar no Beagle como naturalista ao serviço de uma expedição através da América do Sul e Ilhas do Pacífico.

Quando Darwin partiu para a sua viagem, era ainda convicção corrente que a Terra tinha poucos milhares de anos. As pessoas acreditavam que tudo o que existia à superfície do planeta, mares e montanhas, tinha sido criado tal como se apresentava. Ninguém imaginava que, outrora, as Américas, a África e a Ásia estivessem unidas num único continente, Pangeia, que albergava os antepassados de todos os animais que vivem atualmente à face da terra. No século XIX, havia a convicção generalizada de que as espécies tinham nascido perfeitas e imutáveis, criadas por Deus.

O Beagle era um navio pequeno. Darwin dividia a cabina com o comandante Fitzroy, que nutria por ele uma clara antipatia. Na América do Sul, encontrou montanhas de conchas fósseis, testemunhos de eras muito longínquas. Descobriu que, onde existiam florestas, em tempos remotos tinham existido savanas. Com os índios visitou locais infestados de jaguares. Sob o comando de Fitzroy, subiu a contracorrente por um rio durante 370 quilómetros.

A 7 de setembro de 1835, encontrava-se nas Galápagos, um arquipélago a 800 quilómetros da costa peruana, onde permaneceu durante quatro meses. Seguiram-se o Taiti, a Nova Zelândia, a Austrália, as ilhas Maurícias, Madagáscar e, após quase cinco anos de viagem, regressou a Inglaterra.

Uma coisa que Darwin não fez durante a viagem foi propor uma teoria da evolução. Nos anos 1830, a evolução já era um conceito com algumas décadas. Só quando regressou a Inglaterra é que a ideia começou a infiltrar-se-lhe no espírito: a vida era uma luta perpétua e a seleção natural era o método através do qual algumas espécies prosperavam, enquanto outras falhavam. Especificamente, o que Darwin viu foi que todos os organismos competiam pelos recursos e que os que tinham uma vantagem inata eram os que prosperavam, passando essa vantagem à sua descendência. E assim, as espécies tinham tendência a aperfeiçoar-se constantemente. Parece uma ideia incrivelmente simples — e é-o, na verdade —, mas o facto é que vinha explicar muita coisa até aí inexplicável.

Em 1839, Charles Darwin publicou o seu primeiro livro, que narrava a sua viagem à volta do mundo, mas só em julho de 1858 tornou pública a teoria da evolução por seleção natural. Preparou um excerto intitulado Sobre a origem das espécies e os 1250 exemplares da primeira edição esgotaram-se num só dia. A sua vida ficou, então, indissoluvelmente ligada ao debate sobre a evolução. Tal como Copérnico tinha tirado a Terra do centro do universo, Darwin tirou o homem do centro da criação.

Fonte: Bryson, B. (2004). Breve história de quase tudo. Quetzal Editores.

“99.99 percent of all species that have ever lived are no longer with us.” – Bill Bryson