Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025
Escrever à mão ainda é importante na era digital?
Ciência | 10-10-2024
Estudos recentes demonstram que escrever à mão proporciona benefícios neurológicos que a tecnologia moderna não consegue substituir.
Ao longo da última década, os teclados e os ecrãs têm substituído a escrita nas nossas rotinas quotidianas, desde a sala de aula às reuniões de trabalho. Algumas escolas do mundo, inclusive, até já pararam de ensinar a escrita cursiva.
Contudo, vários estudos mostram que escrever à mão oferece benefícios cognitivos que as ferramentas digitais não conseguem substituir. “Em termos estatísticos, a maioria dos estudos sobre a relação entre a escrita e a memória mostram que as pessoas se lembram melhor do que escreveram à mão,” afirma Naomi Susan Baron, professora emérita de linguística na American University, em Washington D.C.
Melhorando a capacidade de retenção da memória e os resultados da aprendizagem, a arte da escrita pode ter um impacto significativo na forma como absorvemos e retemos a informação.
Quais os benefícios da escrita?
As vantagens de escrever à mão podem ser parcialmente atribuídas à participação de vários sentidos no processo da escrita.
Segurar uma caneta com os dedos, encostá-la a uma superfície e deslocar a mão para criar letras e palavras é uma habilidade cognitiva-motora complexa que requer muita atenção. Os estudos demonstraram que este nível mais profundo de processamento, que envolve transformar sons em letras, contribui, nas crianças, para as capacidades de ler e soletrar.
Os adultos também beneficiam da natureza laboriosa de escrever à mão. Um estudo com 42 adultos que estavam a aprender árabe concluiu que os participantes que aprendiam as letras escrevendo-as à mão conseguiam vocalizar melhor as letras recém-aprendidas do que as pessoas que aprendiam os novos caracteres dactilografando-os ou simplesmente observando-os.
Aprender uma nova palavra implica associar um símbolo abstrato a informação visual, motora e auditiva.
Através de inquéritos realizados a 205 jovens adultos na Europa e nos Estados Unidos, constatou-se que muitos alunos diziam ter mais concentração e melhor memória quando escreviam um texto utilizando um instrumento de escrita em vez de pressionarem teclas num teclado, o que sugere que o sentido do tato desempenha um papel fundamental na forma como absorvemos a informação.
O toque e o movimento ativam as mesmas zonas do cérebro que participam na aprendizagem e na memorização.
Para compreendermos melhor como os nossos sentidos influenciam a nossa cognição, podemos pensar no cérebro como uma rede rodoviária. As redes cerebrais das crianças são como trilhos ténues e serpenteantes numa floresta. Com experiência e prática, esses trilhos podem transformar-se em vias rápidas que ligam diferentes partes do cérebro, transportando a informação de forma rápida e eficiente.
Um estudo recente mostrou que as diferentes vias do cérebro ativadas pela escrita manual comunicavam umas com as outras através de ondas cerebrais associadas à aprendizagem, o que também é benéfico para a memória.
Os investigadores estão atualmente a incentivar as pessoas a continuarem a escrever à mão. Na Noruega, várias escolas deixaram de ensinar a escrita cursiva, preferindo que os alunos escrevessem e lessem num iPad, mas quem estuda o assunto acredita que devemos ter um mínimo de escrita à mão nos currículos pelo simples facto de fazer muito bem ao cérebro em desenvolvimento.
Fonte: National Geographic
“I like the process of pencil and paper as opposed to a machine. I think the writing is better when it’s done in handwriting.” – Nelson DeMille