Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025
Cesário Verde: a glorificação não convencional das pessoas comuns
Leonor Saraiva, 12.º A | 11-11-2024
O poema “O Sentimento dum Ocidental” de Cesário Verde tem presente um imaginário épico um pouco distinto do habitual.
Ao contrário de muitos outros autores, que por norma glorificam heróis do passado, essenciais à existência de uma história de Portugal, Cesário Verde dá muito mais valor ao povo e àqueles que trabalham nos tempos que decorrem aquando da produção da obra. Cesário Verde, assim, acaba por, de certa forma, desprezar ou até desvalorizar as classes sociais mais altas, como a nobreza, o clero ou a burguesia. Ou seja, em “O Sentimento dum Ocidental”, os que têm postos de trabalhos honestos mas considerados menos dignos, como por exemplo peixeiras ou padeiros, são mais valorizados do que os mais ricos ou os nobres, sendo assim glorificados. Apesar de tudo, Cesário Verde não deixa de admirar Luís de Camões, considerado um herói nacional, mencionando-o várias vezes ao longo da obra.
Além disso, apesar de Lisboa ser uma cidade de grande fama e constantemente glorificada por todos, Cesário Verde tem outra visão sobre a mesma. O autor considera a cidade como um local opressivo e de ambiente pesado. O sujeito lírico chega, em “Noite Fechada”, a “sonhar” e pensar, de certa forma, em algo mais positivo; mas este estado sonhador não se mantém durante muito tempo, caindo de novo na realidade opressora de Lisboa.
Assim, conclui-se que “O Sentimento dum Ocidental” se trata de uma antiepopeia, por não glorificar heróis do passado, mas sim pessoas comuns pertencentes a classes sociais mais baixas, existentes no presente do sujeito poético.
“Poetry is when an emotion has found its thought and the thought has found words.” – Robert Frost