Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025
Inteligência artificial na educação: ideias e ferramentas que transformam o ensino
Ensino | 17-12-2024
Estas atividades orientadas para a IA ajudá-lo-ão a envolver alunos de todos os níveis de ensino e áreas disciplinares.
Desde os chatbots de texto, como o ChatGPT, até às dezenas de produtos comercializados especificamente para professores, é difícil manter um registo atualizado das ferramentas de inteligência artificial (IA) existentes.
Mais difícil ainda é encontrar tempo para decidir que ferramentas são efetivamente úteis.
Muitos professores descobriram ferramentas de IA que os ajudam a elaborar planos de aula e a poupar tempo. No entanto, quando se trata da utilização da IA pelos alunos, podem sentir-se um pouco mais hesitantes. Afinal, muitas plataformas limitam-se a dar uma resposta sem qualquer informação sobre a forma como a obtiveram — e os alunos não precisam de uma resposta: precisam de ajuda no processo de a obter.
O que parece claro é que a IA veio para ficar e os jovens estão a entrar num mundo em que se espera que interajam com ela. Por isso, é fundamental conhecer as suas potencialidades e limitações. Com a ajuda dos professores, os alunos podem aprender a utilizar a IA de uma forma responsável, que apoie o seu processo de aprendizagem, e os professores podem exigir transparência e responsabilidade sempre que eles utilizam estas ferramentas por conta própria.
Aqui ficam nove sugestões de aulas baseadas em IA para experimentar em diferentes níveis de ensino e áreas temáticas.
1. Dar vida aos desenhos dos alunos: As crianças adoram desenhar e a ferramenta Animated Drawings, da Meta AI Research, anima os seus esboços. Basta tirar uma foto a um desenho, carregá-lo no site, e a IA faz com que ele execute dezenas de ações diferentes, como caminhar, correr, dançar e muito mais.
Incentive os seus alunos a criar uma história em torno das animações. Porque é que o desenho deles está a correr descontroladamente pela sala? Do que é que ele está a fugir? Para que a ferramenta funcione, o desenho deve ser vagamente humanoide, por isso não se esqueça de orientar os alunos para desenharem figuras humanas.
2. Utilizar imagens geradas por IA como sugestões de escrita: Recomenda-se a utilização de imagens para ajudar os alunos a desenvolver as suas capacidades de escrita criativa. Atualmente, encontrar a imagem perfeita é tão fácil como utilizar um dos muitos geradores de imagens de alta qualidade gratuitos, como o Stable Diffusion, o Craiyon ou o Canva. Basta escrever uma frase que considere poder dar origem a uma boa história e projetar a imagem resultante durante a aula.
Peça aos alunos para escrever sobre o que vêem na imagem e que sensações ela lhes provoca. A partir daí, os alunos podem ir mais longe e passar algum tempo a redigir a sua história. Para ligar melhor esta atividade à aprendizagem de conteúdos, peça-lhes que incluam, no seu texto, vocabulário aprendido recentemente — ou à IA que inclua conceitos relevantes na própria imagem, como “oceano”, “lagos” ou “lagoas”.
3. Utilizar as respostas da IA para estimular o pensamento científico: Os modelos de linguagem de IA fazem normalmente um bom trabalho ao responder a perguntas básicas sobre ciência. Mas a sua taxa de precisão está longe dos 100%, o que pode ser uma boa forma de desenvolver o pensamento crítico nos alunos do ensino básico.
Numa aula, os professores podem abrir o ChatGPT e pedir aos alunos que façam perguntas relacionadas com os conteúdos. Por exemplo, se um aluno ainda estiver confuso sobre a formação de nuvens, o professor pode pedir ao ChatGPT: “Por favor, explique a um aluno do 1.º ciclo como se formam as nuvens.” Em seguida, a turma pode dissecar a resposta com um grupo com perguntas como: “O que é que ficou de fora? O que é que não está claro? Que partes da resposta podem não ser exatas?”
Para ampliar a pesquisa, encoraje os alunos a passarem algum tempo a pesquisar em fontes fiáveis para confirmar ou refutar as afirmações científicas do ChatGPT. Ao darmos aos alunos a oportunidade de avaliar os produtos que a IA gera, estimulamos a sua aprendizagem e o desenvolvimento do pensamento crítico.
4. Encontrar falhas em imagens históricas geradas por IA: Os geradores de imagens podem ajudar os alunos a imaginar como poderiam ter sido as cenas históricas — a partida de Vasco da Gama para a Índia, por exemplo, mas é provável que essas imagens estejam cheias de imprecisões.
Imagens de IA pouco fiáveis podem ser um excelente ponto de partida para uma atividade de História. Projete um gerador de imagens e introduza uma frase relacionada com a época que está a ser abordada na aula; em seguida, mude a definição de “estilo” para “fotografia” para obter o máximo de realismo.
Peça aos alunos para analisarem o resultado, utilizando o que já aprenderam, ou que façam uma pesquisa adicional para identificar elementos da imagem desfasados da realidade, como vestuário ou tecnologia anacrónicos, ou uma apresentação tendenciosa de grupos específicos.
5. Utilizar ferramentas matemáticas de IA para ver todos os lados de um problema: Muitos professores de Matemática conhecem — e amaldiçoam — o nome Photomath, uma poderosa aplicação baseada em IA que pode digitalizar e resolver um problema matemático a partir de uma fotografia. Mas há formas de utilizar o Photomath para envolver os alunos numa aprendizagem mais profunda.
Uma opção é fazer com que os alunos comparem a sua abordagem à resolução de problemas com uma abordagem de IA. Os professores podem dar aos alunos um conjunto de problemas e pedir-lhes que utilizem caneta e papel para os resolverem primeiro, antes de introduzirem os problemas no Photomath. Como o Photomath percorre as etapas para chegar a uma solução, os alunos podem comparar o processo — e os resultados — da ferramenta com os seus próprios.
“As plataformas apresentaram respostas diferentes? Métodos diferentes? Qual é a mais eficiente?” Responder a estas perguntas ajudará os alunos a refletir mais profundamente sobre as diferentes abordagens à resolução de problemas e ajudá-los-á a aperfeiçoar os seus próprios métodos.
6. Aprender sobre estilo com as imitações de autores famosos feitas pelo ChatGPT: Ajude os alunos a compreender melhor o conceito de estilo e como os escritores famosos o cultivam, pedindo ao ChatGPT para tentar imitar o estilo dos autores que estudam.
Peça aos alunos para contrastarem as imitações do ChatGPT e dissecarem a forma como a escolha de palavras, as técnicas narrativas ou os recursos literários são utilizados por escritores específicos para criar um estilo distinto. Pode também desafiar os alunos a encontrarem escolhas estilísticas que o autor original provavelmente não teria feito.
7. Conversar com figuras históricas: Para ressuscitar figuras históricas já desaparecidas e tentar aproximar o que elas poderiam ter dito numa conversa, pode utilizar o Hello History.
O aplicativo permite conversar com dezenas de figuras históricas, desde Cleópatra a Einstein. O próprio ChatGPT pode ser usado para conversas longas. Peça aos alunos que lhe dêem instruções: “Durante o resto desta conversa, assume o papel de [figura histórica]”, e depois faça uma série de perguntas.
É expectável que os resultados estejam cheios de imprecisões — erros biográficos ou deturpações sobre aquilo em que a figura histórica realmente acreditava. Desafie os alunos a analisar cuidadosamente o que o chatbot diz. Em que é que a IA acertou e errou sobre a vida e as crenças da personalidade? Podem responder a isto com base no que já aprenderam na aula ou efetuar uma pesquisa independente para verificar as afirmações do ChatGPT.
8. Falar com IA numa língua estrangeira: Quando estão a aprender uma nova língua, os alunos podem sentir-se inseguros porque cometem erros, e evitam praticar tanto quanto deveriam. Mas muitos aprendentes de línguas estão a recorrer a chatbots de IA para obter ajuda, uma vez que um chatbot não o julga e pode escolher os assuntos que lhe interessam. De acordo com a BBC, a investigação sugere que estes chatbots também podem ser úteis para “o desenvolvimento do vocabulário, da gramática e de outras competências linguísticas, especialmente quando oferecem feedback corretivo”.
Existem chatbots de IA especificamente para a aprendizagem de línguas, como o LearnLingo e o Tutor Lily, ambos com versões gratuitas. Podem ser ajustados a vários níveis de fluência e oferecem opções de conversação em texto e áudio. Os professores podem pedir aos alunos que interajam com estas plataformas linguísticas em casa ou tentem conversar com eles na sala de aula.
9. Peça aos alunos para avaliarem a escrita do ChatGPT: A maior tentação de muitos alunos é deixar o ChatGPT escrever as suas redações. Uma forma divertida e envolvente de os professores contornarem esse desejo é... permitir que os alunos façam exatamente isso. Em vez de lhes pedir que redijam um texto argumentativo, peça-lhes para utilizarem o ChatGPT.
Depois, peça-lhes que assumam o papel do professor: em grupos, os alunos devem ler a resposta do ChatGPT e avaliá-la utilizando uma grelha de avaliação fornecida pelo professor. Peça aos alunos que classifiquem a resposta do ChatGPT e apresentem um feedback construtivo para a próxima tarefa, por exemplo: “O vocabulário é pouco variado. Tente novamente.” Ao assumirem o papel de um editor, os alunos podem desenvolver ativamente uma melhor compreensão do que torna um texto argumentativo bem sucedido.
Fonte: 9 Tips for Using AI for Learning (and Fun!). Edutopia.
“AI is neither good nor evil. It’s a tool. It’s a technology for us to use.” – Oren Etzioni