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Conquistadores: como Portugal criou o primeiro império global
História | 13-01-2025
Em Conquistadores, o historiador Roger Crowley conta-nos como Portugal construiu um grande império marítimo europeu, dando origem à primeira economia global.
Em agosto de 1415, uma frota portuguesa atravessou o Estreito de Gibraltar e atacou o porto muçulmano de Ceuta, em Marrocos, um dos pontos mais fortificados e estratégicos de todo o Mediterrâneo. A tomada de Ceuta surpreendeu a Europa.
No início do século XV, a população de Portugal não era superior a um milhão de habitantes. Os reis eram demasiado pobres para cunhar as suas próprias moedas de ouro. A pesca e a agricultura de subsistência eram os pilares da economia, mas só a ambição igualava o nível de pobreza do país.
D. João I, o fundador da casa de Avis, tomou a coroa em 1385 e afirmou a independência em relação a Castela, o país vizinho. O ataque a Ceuta foi planeado para absorver a energia inquieta da nobreza; foi uma campanha que combinou o espírito medieval da cavalaria com a paixão pelas cruzadas.
Três dias de saques e massacres transformaram um local que outrora tinha sido descrito como “a flor de todas as cidades de África”. Este golpe surpreendente avisou os rivais europeus que este reino pequeno era autoconfiante, energético e estava pronto para a ação.
Em Ceuta, os portugueses vislumbraram, pela primeira vez, a riqueza de África e do Oriente. A cidade era o ponto de chegada das caravanas que traziam ouro pelo deserto do Sara, do rio Senegal e dos entrepostos mais a ocidente do comércio islâmico de especiarias com a Índia.
Ceuta foi o início da expansão portuguesa, o limiar de um mundo novo.
Em 163 anos, os portugueses desbravaram mais caminho e mais rapidamente do que qualquer outro povo. Do seu ponto de partida, avançaram pela costa ocidental de África, contornaram o Cabo e chegaram à Índia em 1498, acostaram no Brasil em 1500, chegaram à China em 1513 e ao Japão provavelmente em 1543.
No século XV, Lisboa estava na vanguarda da exploração, sendo um laboratório para testar ideias acerca do mundo.
Por toda a Europa, astrónomos, cientistas, cartógrafos e mercadores olhavam para Portugal para obter a informação mais recente acerca da forma do continente africano. Matemáticos judeus, mercadores genoveses e cartógrafos alemães eram atraídos para o reboliço das ruas deste país, com o seu horizonte marítimo infindável além da foz do Tejo, ao qual voltavam as caravelas portuguesas carregadas de escravos negros, papagaios de cores brilhantes, pimenta e mapas desenhados à mão.
Os portugueses foram impelidos por um desejo de realizar grandes feitos. Os reis e os seus filhos viviam, lutavam e morriam segundo um código de honra que acompanharia os portugueses pelo mundo fora.
Crowley, R. (2016). Conquistadores: como Portugal criou o primeiro império global. Presença.
“A sorte favorece os audazes.” – Alexandre, o Grande