Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025
500 Anos de Camões
Aventuras de um poeta português
Biografia | 03-02-2025
Os anos que Luís Vaz de Camões passou no estrangeiro não são muito conhecidos, mas isso não diminuiu a sua lenda.
Os poetas sempre foram um pouco loucos. Eles próprios o admitem: “O lunático, o amante e o poeta / São todos de imaginação compacta”, escreveu William Shakespeare na década de 1590.
Algumas décadas antes destas palavras terem sido escritas, foram encarnadas na vida de um jovem chamado Luís Vaz de Camões, hoje venerado como um dos maiores poetas portugueses e celebrado tanto em Portugal como em Macau, onde terá passado alguns anos.
Embora o tempo tenha obscurecido os pormenores da biografia de Camões, vislumbres de um romântico louco ainda brilham por entre a poeira pesada da história. O seu enredo pessoal oscila entre o favor real, o desterro e o regresso – passando por vários países e incluindo uma briga de rua, um naufrágio e vários casos amorosos escandalosos.
Camões nasceu no seio de uma família nobre, em Lisboa, por volta de 1524, e a sua juventude foi aparentemente “menos do que moderada”, como refere secamente a enciclopédia Britannica. O historiador Edmond Taylor foi menos cauteloso na sua descrição de 1972: “Ele era brilhante, selvagem e bonito... tornou-se um jovem fanfarrão alegre, embora sem dinheiro, em toda a capital”.
Depois de ter sido banido de Lisboa aos vinte anos – não se sabe bem porquê, embora houvesse rumores de um romance indecoroso com uma dama da corte –, Camões embarcou na marinha portuguesa para defender o território colonial. Ficou cego de um olho durante uma escaramuça com mouros algures ao longo da costa do Norte de África, um pormenor que aumenta a sua mística em retratos posteriores.
Camões regressou a Lisboa por volta de 1551 e cedo se envolveu novamente em problemas, desta vez indo parar à prisão por ter ferido um oficial real durante uma luta de rua. A sua pena foi reduzida para três anos de serviço militar forçado e, em 1553, foi enviado para Goa, na Índia. Mais tarde, assumiu um posto na administração colonial e embarcou para Macau.
Talvez tenha sido todo este tempo no mar que inspirou Camões a escrever Os Lusíadas, um poema épico sobre a viagem do explorador português Vasco da Gama ao Oriente. Muitas pessoas acreditam que Camões começou a compor o poema enquanto estava em Macau, embora provavelmente não na gruta que agora tem o seu nome.
A escassez de factos concretos sobre os anos de Camões no estrangeiro não impediu os biógrafos de o envolverem em muitas desventuras. Alguns dizem que a estadia do poeta em Macau terminou quando foi acusado de corrupção e enviado para Goa para ser julgado, sofrendo um naufrágio no delta do Mekong pelo caminho. Outros acrescentam um toque extra de drama à história, afirmando que Camões salvou o seu manuscrito, mas perdeu a companheira no desastre.
O poeta zarolho e de coração selvagem parece ter finalmente acalmado na sua última década de vida, depois de um amigo lhe ter pagado a passagem de Moçambique para Lisboa (não se sabe ao certo o que Camões estava lá a fazer). Quando Os Lusíadas foi publicado em 1572, o poeta dedicou-o ao rei D. Sebastião, que aparentemente gostou o suficiente para lhe conceder uma modesta pensão.
Camões morreu em 1580, por volta dos 56 anos. Como acontece com muitos poetas, a morte pareceu ser um bom passo na carreira – a sua popularidade aumentou postumamente, e a maioria das fontes referem-se agora a ele como o “poeta nacional” de Portugal.
Mas talvez nem se tivesse importado, a julgar por estes versos da sua
obra mais famosa:
“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade a que chamamos fama!”
Traduzido de: Adventures of a Portuguese Poet. Smithsonian Magazine.
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” – Fernando Pessoa