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Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025


Em Sintra com Saramago: uma aula fora da caixa

Ana Marinho, Gabriela Lameira e Ricardo Ferreira, 12.º B | 30-01-2025

Na quinta-feira, dia 16 de janeiro, os alunos do 12.° ano da EBS de Muralhas do Minho assistiram, em Sintra, no Centro Cultural Olga Cadaval, a uma peça de teatro baseada na obra O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago.

No espetáculo, Saramago tem lugar de destaque, ora como autor, ora como narrador.

Bem vindo a Sintra!
Entra em cena...
A peça, que teve início às 11h00 e terminou às 12h30, trouxe para o palco as reflexões e personagens do romance, oferecendo aos estudantes uma nova perspetiva sobre a mesma. Esta experiência teatral foi um dos momentos mais marcantes da visita de estudo, que principiou na quarta-feira.

Do livro ao palco
A vida no palco deu cor às personagens e ao romance de José Saramago, com um elenco que conseguiu captar a essência das inquietações filosóficas de Ricardo Reis e “transformar as palavras do livro em algo tão real e próximo”, tal como afirmou a Sara Correia, aluna do 12.° B.
Para os alunos, foi uma oportunidade de ver a literatura sair das páginas do livro para o palco, ajudando a entender melhor a obra, assim como referiu Lara Ferreira, aluna do 12.º B: “acho que vou conseguir compreender melhor a história para os testes”, e tal como a Lara, muitos outros alunos o confessaram.

Encontra- te no palco!
Revivamos o romance de José Saramago!
O romance foi publicado em 1984 e conta a história de um dos heterónimos de Fernando Pessoa, Ricardo Reis, que, após uns longos anos no Brasil, regressa a Lisboa em 1936, hospedando-se prolongadamente no Hotel Bragança. O Ano da Morte de Ricardo Reis inicia-se meses depois da morte de Fernando Pessoa, e, ao longo da narrativa, Ricardo Reis é visitado pelo espírito do poeta, que pode permanecer no mundo dos vivos até completar nove meses desde a sua ausência, explícito ao longo da representação, marcado por diálogos reflexivos. Diálogos que versaram sobre a mortalidade, a eternidade e a passagem do tempo, enquanto o protagonista tenta compreender o seu lugar num mundo que parece estar em desordem. Apesar de manter algumas relações humanas, nomeadamente com Lídia, uma criada de hotel representada pela simplicidade, e Marcenda, uma jovem caracterizada pela fragilidade, uma vez que sofre de uma paralisia na mão esquerda, o protagonista desta história vive numa solidão constante, originando assim uma ligação à base da superficialidade. Para além disso, a política torna-se crucial para entender este romance. Portugal vive sob o regime opressor de Salazar, enquanto a Guerra Civil espanhola decorre ao lado, e a ascensão de regimes fascistas na Europa dá azo à projeção da sombra de uma guerra mundial. Neste aspeto, Ricardo Reis é uma figura que observa, e que, embora crítico em pensamento, se mostra passivo em relação aos acontecimentos históricos. Já Saramago defende que a neutralidade é uma forma de posicionamento na sociedade. No final, Ricardo Reis acaba por aceitar a sua mortalidade e o seu destino, terminando num desenlace tão melancólico quanto reflexivo, uma das grandes características de Saramago.

A obra termina de uma forma enigmática, deixando ao leitor o desafio de se submeterem a uma breve e concisa reflexão sobre o papel do indivíduo perante a vida.

De volta ao (ir)real...
A visita de estudo, como já mencionado, começou na quarta-feira e proporcionou aos alunos uma imersão no património histórico e cultural de Sintra. Entre as atividades, destacaram-se passeios pelos monumentos icónicos da cidade de Sintra, o Palácio da Pena, e arredores, como o Convento de Mafra e uma visita guiada ao Chiado, que complementaram a experiência teatral com momentos de lazer e descoberta.

Mais do que uma simples atividade curricular, esta experiência reforçou a importância de aproximar os jovens da literatura, oferecendo-lhes novas perspetivas e ferramentas para interpretarem o mundo ao seu redor. Iniciativas como estas ajudam a formar mentes mais críticas e reflexivas para o futuro.

“Sabemos pouco do que somos, e menos do que seremos.” – Ricardo Reis