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Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025


Fernando Pessoa: o guia turístico

Sara Correia e Rodrigo Barros, 12.º B | 30-01-2025

Nos dias 15 e 16 de janeiro, as turmas do 12.º ano visitaram Lisboa, guiadas por Fernando Pessoa e seus heterónimos. Ao longo do percurso, o autor contou episódios da sua vida, recitando poemas da sua vasta obra.

Nas ruas de Lisboa, Ofélia é pedida em casamento por Pessoa.

No decorrer do estudo da poesia pessoana, ortónima e heterónima e da prosa saramaguiana, as turmas do 12.º ano da Escola Básica e Secundária de Muralhas do Minho, Valença, realizaram, nos dias 15 e 16 de janeiro, uma visita de estudo a Lisboa e arredores, com o intuito de aprofundar os seus conhecimentos sobre as obras em estudo e visitar monumentos históricos e ruas célebres, que refletem a literatura, e a cultura, portuguesas.

A visita de estudo, em geral, abordou vários temas e experiências, mas a visita guiada pelas ruas mais emblemáticas de Lisboa, em específico, foi onde a maioria se divertiu mais, o que faz juz ao seu nome – “COOLture tours”. Esta empresa de animação turística procura aproximar pessoas de várias idades da história e cultura de Portugal, de forma adaptada ao público. O nosso guia foi o ator Martim Galamba, que interpretou Fernando Pessoa e os seus heterónimos.

No início da visita, os alunos foram recebidos por Fernando Pessoa no Largo de São Carlos, junto ao Teatro de São Carlos, onde o poeta apareceu a declamar um poema de sua autoria, tendo em seguida contado episódios da sua infância e os detalhes do percurso que iriam fazer.

O percurso incluiu uma paragem na Basílica dos Mártires, onde foi batizado. No meio de histórias sobre a sua infância, Pessoa levou-os a visitar o renomado Café A Brasileira do Chiado, onde foram tiradas fotografias e recitados alguns poemas, junto à sua famosa estátua.

Após a passagem pel’ A Brasileira, Pessoa deixou o grupo ao encargo de Bernardo Soares, um dos seus grandes amigos, que, por sua vez, encaminhou os visitantes para o Largo e Quartel do Carmo, onde tiveram a oportunidade de observar militares em serviço, ruínas do 25 de Abril e o edifício onde Fernando Pessoa tinha vivido na sua infância, que ainda hoje tem uma representação sua numa das janelas.

Os alunos foram incentivados a inspirar-se no que os rodeava para escrever um poema e a lê-lo publicamente. Os mais corajosos aceitaram o desafio e, terminadas as leituras, Bernardo despediu-se.

Num ritmo desgovernado, surge Álvaro de Campos, num estado frenético. O grupo teve de se adaptar à sua energia e rapidez, tendo sido necessário um grande esforço físico e mental para o acompanhar. Álvaro avançava a todo o gás, enquanto recitava poemas, quase os gritando. Apressadamente, uns a correr e outros a passo rápido, chegaram ofegantes ao Rossio, mais concretamente à Praça Dom Pedro IV 30, onde Campos se despediu.

No Rossio, após a excitação provocada por Álvaro de Campos, o grupo acalmou-se ao encontrar Ricardo Reis. De postura impecável e expressão tranquila, o poeta saudou-os com uma formalidade elegante. Cada palavra de Reis era ponderada e, enquanto falava, sentia-se sobre o grupo a reflexão filosófica inserida por Ricardo Reis. Serenamente, Ricardo guiou o grupo até ao seu colega, Alberto Caeiro.

Na Praça da Figueira, encontraram o mestre, que os aguardava com uma serenidade natural. De aparência simples e olhar atento, Caeiro tinha uma presença tranquila, mas viva. Ao contrário dos outros encontros, não houve discursos elaborados ou gestos dramáticos. Com palavras diretas e não muito elaboradas, ele declamou a beleza da simplicidade e a importância de viver o momento presente. O grupo pôde então aproveitar a beleza que o rodeava pacificamente, na companhia de Caeiro. Alberto dirigiu o grupo por diversas ruas, até Fernando Pessoa se voltar a cruzar no caminho do mesmo, e assim se despediram de Alberto Caeiro.

A visita fechou com chave de ouro, na Praça do Comércio, também conhecida como Terreiro do Paço, uns momentos antes do pôr-do-sol, onde os alunos foram convidados a admirar a paisagem e onde o grupo se juntou para criar lembranças da experiência, ou seja, tirar fotografias.

Ficam especialmente na memória de todos os participantes: a qualidade do ator e a sua capacidade admirável de interpretar um leque de personagens num curto espaço de tempo e de nos guiar pelas diversas ruas e praças da cidade, sem que perdêssemos o foco da atividade. Para além disso, é de realçar as capacidades atléticas de Martim Galamba, que conseguiu pôr um grupo inteiro a fazer uma maratona para o acompanhar, bem como as suas capacidades de engate, já que um elemento do público pôde ser a Ofélia por uns momentos, participando num pedido de casamento.

“E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.” – Álvaro de Campos