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Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025


Das glórias do passado à apatia do presente: um olhar crítico sobre a Europa

Ísis Páris e Mateus Fernandes, 12.º A | 12-02-2025

Francesco Bongiorni

O poema de Fernando Pessoa e o texto de Filipa Leal representam de forma contrastante a mesma figura: a Europa. No entanto, enquanto Pessoa vê a Europa como uma figura grandiosa, ainda que estática, que contempla o futuro na esperança de voltar a ser gloriosa, Filipa desmistifica essa visão, expondo uma Europa envelhecida e mergulhada em contradições. Ambos os textos falam da Europa, mas partem de perspetivas opostas – Pessoa olha para o potencial adormecido, enquanto Filipa vê o presente decadente.

Pessoa apresenta uma Europa de imponente, de forma quase mitológica, deitada e contemplativa, com “olhos gregos, lembrando”. Para ele, o continente é um rosto que se apoia em Portugal, uma terra que já foi grande, com grande feitos no passado e que poderia voltar a sê-lo, sugerindo que o futuro pode ser um reflexo desse legado e, ainda que imóvel, há uma esperança implícita: a Europa tem a força da sua juventude histórica e a capacidade de olhar adiante, se quiser.

Filipa, no entanto, ataca essa visão romântica, pois para ela, a Europa está desgastada, incapaz de lidar com seus próprios problemas. “Envelheceste mal e perdeste a humildade”, diz ela, denunciando o continente que se tornou num emaranhado de palavras vazias, política e cálculos financeiros. Enquanto Pessoa sugere que a Europa contempla o futuro com um “olhar esfíngico e fatal”, Filipa retrata uma Europa apática, focada apenas em números e poder, enquanto os seus filhos enfrentam a fome, o medo e a falta de perspetivas.

A escassez de oportunidades e o presente sombrio descritos por Filipa contrastam com a confiança de Pessoa. Ela questiona a quem a Europa realmente serve: não aos seus filhos, que “não querem gravatas”, mas paz; não aos trabalhadores, que querem dignidade; serve apenas os interesses de quem conta os lucros e mantém o poder. Para ela, a Europa está a travar as batalhas erradas – dispara contra a luz, contra as manifestações que clamam por um futuro sustentável, enquanto deixa de enfrentar os verdadeiros problemas: a desigualdade, a falta de ação, e o desespero que consome os jovens.

Pessoa clama por um renascimento da Europa através da memória do que ela foi, preso no passado. Filipa, entretanto, denuncia que a Europa já perdeu o seu significado, transformando-se numa estrutura envelhecida, desconectada dos seus povos. Entre o sonho e o desespero, os dois textos revelam, de maneiras opostas, a complexidade de um continente que, no passado e no presente, carrega o peso dos seus erros e a ambiguidade do seu futuro.

“Triste de quem é feliz!” – Fernando Pessoa, Mensagem