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Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025


17 Contos que celebram amores únicos e imperfeitos

Alunos 11.º B | 14-02-2025

O Amor é para ser vivido dia após dia. Comemorá-lo faz parte do ser humano. Em fevereiro, os Contos Imperfeitos associam-se à celebração do AMOR.

Gabi Vasko / Behance

  Amor eterno, Margarida Carvalho


  Amor para sempre, Gonçalo Almeida


  Coragem, Rodrigo Barbosa


  Encontro de outono, Diogo Fernandes


  Jardim de Rosas, Sara Esteves


  O amor imperfeito, Gonçalo Pires


  O amor não era para mim, Joana Rodrigues


  O amor não precisa de ser perfeito, José Neto


  O bilhete esquecido, Tomás Gomes


  O delicado equilíbrio do amor, Daniela Purificação


  O mar de Âncora, Tiago Garceis


  O pedido de desculpas que esperava ter recebido, Inês esteves


  O presente perfeito, Miguel Lameira


  O último beijo, Eliana Alves


  O último bilhete, Pedro Sousa


  Onda após onda, Ana Rodrigues


  Pétalas do primeiro amor, Bia Ferreira


Amor eterno

Margarida Carvalho

Num reino distante, onde a magia era usada para destruir o bem, viviam James e Bellatrix, unidos por um amor tão profundo quanto trágico. James era imortal, um ser condenado a viver eternamente, enquanto Bellatrix, uma simples humana, envelhecia com o passar dos anos. O destino cruel brincava com os seus corações, sabendo que o seu amor estava destinado ao sofrimento.

Os anos passavam e Bellatrix começava a sentir o peso do tempo. As rugas marcavam-lhe o rosto, os cabelos tornavam-se brancos e as forças diminuíam. James permanecia inalterado, a sua aparência jovem contrastando dolorosamente com a deterioração da sua amada. A imortalidade, uma bênção para uns, era para ele uma maldição, pois sabia que perderia Bellatrix lentamente.

Os dois continuaram a amar-se com uma intensidade inabalável, aproveitando cada momento juntos. James cuidava de Bellatrix com ternura, enquanto esta viajava pelas suas memórias, recordando os dias de juventude em que ambos riam e corriam pelos campos floridos. Mas a felicidade estava sempre à beira de ser arruinada pela sombra inevitável do tempo.

Quando o inverno chegou e a saúde de Bellatrix se deteriorou rapidamente, James manteve-se ao seu lado, sabendo que o fim estava próximo. Não havia poção ou feitiço que a pudesse salvar da mortalidade. Bellatrix fechou os olhos uma última vez, com um sorriso sereno, sabendo que o seu amor viveria para sempre no coração de James.

Sozinho, James caminhava pelos campos onde outrora tinham sido felizes. A eternidade parecia agora um castigo insuportável, mas ele guardava a lembrança de Bellatrix como o seu tesouro mais precioso. O amor deles, embora impossível de continuar, transcendeu a morte, permanecendo eterno nas memórias de James e no vento que sussurrava os seus nomes.


Amor para sempre

Gonçalo Almeida

Era uma vez, numa aldeia remota, entre colinas verdejantes, dois jovens que cresceram lado a lado, a Leonor e o Guilherme. Desde pequenos, partilhavam segredos, sonhos e risos. Com o passar dos anos, o afeto entre eles transformou-se em algo mais profundo, como um rio que devagar vai desenhando o seu curso.

Um dia, Guilherme partiu para estudar numa cidade longínqua. Leonor ficou a cuidar da aldeia e das memórias que os uniam. Mesmo distante, ele escrevia cartas cheias de poesia e promessas. Leonor respondia com palavras simples, mas verdadeiras.

Alguns anos depois, Guilherme regressou. Encontraram-se no mesmo lugar de sempre, sob o carvalho antigo onde tudo começara. Sem precisar de palavras, entenderam que o amor que os unia era como aquela árvore: firme e eterno.

E assim, viveram juntos, provando, então, que o amor verdadeiro resiste ao tempo e à distância.


Coragem

Rodrigo Barbosa

Mariana adorava escrever cartas, mesmo sem destinatário. Guardava-as numa caixa, como segredos jamais revelados.

Certo dia, esqueceu-se de uma no banco da praça. Gabriel encontrou o envelope e, curioso, leu as suas palavras sobre amor, sonhos e encontros inesperados. Fascinado, respondeu e deixou a sua carta no mesmo banco.

No dia seguinte, Mariana encontrou a resposta. O seu coração acelerou. Assim começou uma troca silenciosa, dia após dia, entre páginas repletas de sentimentos.

Até que, numa tarde de outono, Mariana encontrou apenas um bilhete:

“Se me quiseres conhecer, estarei aqui, amanhã, às cinco.”

O coração dela hesitou, mas o desejo venceu. No dia seguinte, lá estava Gabriel, segurando uma carta e um sorriso tímido.

Mariana sorriu de volta. Naquele instante, percebeu que algumas histórias não precisam de tinta, mas apenas de coragem para serem vividas.


Encontro de outono

Diogo Fernandes

Era uma tarde dourada de outono, quando Clara e Miguel se encontraram pela primeira vez. O parque estava salpicado de folhas avermelhadas e douradas, dançando ao sabor do vento. Clara, uma jovem de sorriso tímido e olhar sonhador, estava sentada num banco, perdida entre as páginas de um livro. Miguel, por sua vez, caminhava distraído, apreciando a brisa fresca e o céu pintado em tons de laranja.

Ao passar pelo banco, uma rajada de vento atrevida virou as páginas do livro de Clara, fazendo com que uma folha solta voasse em direção a Miguel. Ele apanhou-a no ar, rindo da coincidência, e leu as palavras escritas ali: “O amor surge nos momentos mais inesperados.” Intrigado, olhou para Clara, que corou ao perceber que ele segurava o seu papel.

— Acho que isto é seu — disse Miguel, devolvendo a folha com um sorriso gentil.

Clara pegou no papel e sorriu timidamente. Havia algo no olhar de Miguel que a fez sentir-se confortável, como se o conhecesse há muito tempo.

— Obrigada. Parece que o destino gosta de brincar connosco — respondeu ela, fechando o livro e fitando-o com curiosidade.

Começaram a conversar, primeiro sobre o livro, depois sobre os dias e as coincidências da vida. O tempo passou sem que percebessem, e logo o sol começou a esconder-se no horizonte. Miguel, encantado pela doçura de Clara, ganhou coragem e perguntou:

— Aceitas tomar um café comigo? Parece que as nossas histórias querem cruzar-se.

Clara hesitou por um segundo, mas ao ver o brilho sincero nos olhos de Miguel, sorriu e assentiu.

— Eu adoraria.

E assim, entre chávenas de café e risadas suaves, nasceu um amor que, como as folhas do outono, flutuou suavemente até encontrar o lugar certo: no coração um do outro.


Jardim de Rosas

Sara Esteves

Entre montanhas e bosques, existia um palácio rodeado de um grande jardim cheio de arbustos de rosas brancas e vermelhas. Isolada do mundo, Eva vivia confortavelmente nesse palácio.

Um dia, um aventureiro apareceu no palácio. Precisava de abrigo para passar a noite e ofereceu-se para contar à jovem as suas aventuras em troca da sua hospitalidade.

Eva ouviu encantada as histórias do aventureiro, fazendo perguntas e partilhando coisas sobre si mesma. Os dois apaixonaram-se naquela noite e passaram a viver no palácio juntos.

Viviam dias serenos e felizes, a cuidar do palácio e do jardim que Eva tanto amava. Muitos anos se passaram e o aventureiro envelheceu, enquanto Eva permanecia jovem e bela. Quando o aventureiro morreu, Eva tinha exatamente a mesma aparência que no dia em que ele tinha chegado.

Eva enterrou o corpo do seu amado sob um arbusto de rosas brancas, sabendo que viveria para sempre cuidando delas.

“As rosas vermelhas são o símbolo do amor, porque eram brancas até serem banhadas pelas lágrimas de Afrodite e o sangue do seu amante”.


O amor imperfeito

Gonçalo Pires

Era véspera de Dia dos Namorados, e Ana queria encontrar o presente ideal para Lucas. Caminhou durante horas, mas nada parecia especial. Queria algo que representasse o amor verdadeiro que sentia.

Enquanto pensava, Lucas surpreendeu-a com um abraço e disse: “O meu melhor presente és tu.”

O coração de Ana acelerou. Às vezes, o melhor presente de todos não está numa caixa, mas em gestos simples.

Naquela noite, trocaram cartas escritas à mão, repletas de palavras apaixonadas. Jantaram à luz de velas, brindando ao amor eterno. Perceberam que o verdadeiro sentido do Dia dos Namorados era estarem juntos. No fim do dia, jantaram à luz das velas, de forma a brindarem ao seu amor.

Entre sorrisos e beijos, prometeram celebrar aquele romance inesquecível todos os dias, pois o amor não precisava de uma data específica para ser vivido.


O amor não era para mim

Joana Rodrigues

Mariana sempre se sentiu deslocada, quando o assunto era o amor. Via as suas amigas a apaixonarem-se, vivendo histórias bonitas, enquanto ela permanecia à margem, a observar. Cada vez que uma paixão sua não era correspondida, reforçava a ideia de que o problema era ela. Talvez não fosse bonita o suficiente, interessante o suficiente, ou simplesmente não tivesse sido feita para o amor.

Os meses passavam, e Mariana acostumou-se à ideia de que o seu papel era assistir ao amor acontecer com os outros. Então, sem aviso, Gabriel apareceu. Ele estava sempre por perto, não de forma chamativa, mas de um jeito subtil, como se a presença dele fosse um detalhe que, de repente, se tornava impossível de ignorar. Ele ouvia-a com atenção, lembrava-se dos pequenos detalhes das suas histórias e sorria para ela como se o mundo fosse um lugar mais leve quando estavam juntos.

No início, Mariana não deu importância. Já não criava expetativas. Mas algo dentro dela começou a mudar. Sentia-se diferente, quando sabia que ele estaria por perto, notava o coração acelerado sem motivo aparente e percebia um calor estranho quando seus olhares se cruzavam.

Ainda assim, ela tentava afastar aqueles sentimentos. Convencia-se de que era apenas uma ilusão, que ele não poderia gostar dela dessa maneira. Afinal, nunca acontecia. Nunca era com ela.

Então, numa noite tranquila, em que estavam sentados lado a lado, o vento trazendo consigo o cheiro suave da noite e o som distante da cidade aconteceu... Gabriel não precisou de dizer nada. O seu olhar era sereno, mas cheio das certezas que Mariana nunca tivera. Ele não a via como ela se via a si mesma — alguém que não merecia ser amada — mas sim como alguém que valia a pena conhecer, admirar, gostar.

Naquele instante, Mariana sentiu algo a desfazer-se dentro dela. O amor não era algo que precisasse de ser conquistado, nem uma qualidade que faltasse nela. O amor simplesmente acontecia.

E, talvez, pela primeira vez, estivesse a acontecer com ela.


O amor não precisa de ser perfeito

José Neto

João andava ansioso há semanas. O Dia dos Namorados estava a aproximar-se, e este ano ele queria surpreender Sofia. Os dois estavam juntos há muito tempo, mas ele queria que fosse especial. Então, comprou um presente muito caro e planeou um jantar num restaurante muito romântico e até escreveu uma carta, dizendo tudo o que sentia. Contudo, no dia 14 de fevereiro, nada disso funcionou. Primeiro, perdeu o autocarro e chegou atrasado ao restaurante. Então, mesmo depois de se ter sentado à mesa, percebeu que havia esquecido o presente em casa e para piorar, a comida estava a demorar, e quando veio, o bife dela estava mal passado, o que ela odiava.

Sofia não pareceu irritada, mas João sentiu-se frustrado. Nada estava a correr como ele imaginara. Quando, no fim, ganharam coragem para rir da situação, o empregado trocou o pedido deles com o da mesa ao lado. Foi a última gota de água para João, que suspirou e disse:

— Isto está a ser um desastre!

No entanto, Sofia riu e disse:

— Não interessa, o que interessa é estarmos juntos.

E então João olhou para ela e percebeu que Sofia tinha razão. Já não fazia diferença, especialmente para mentes jovens que se apaixonam e não precisam de perfeição, só precisam de estar lá um para o outro. Saíram do restaurante e comeram um hambúrguer num banco do jardim. Foi o melhor jantar que poderiam ter tido.


O bilhete esquecido

Tomás Gomes

Clara trabalhava numa pequena livraria e, no Dia dos Namorados, sentia-se um pouco solitária enquanto organizava os livros na vitrina. Ao pegar no livro Amor de Perdição, percebeu que estava um bilhete dobrado entre as páginas.

“Se um dia encontrar este bilhete, saiba que o amor sempre encontra um jeito de surpreender.” Ela sorriu, intrigada.

— Vejo que encontrou o meu bilhete — disse uma voz masculina atrás dela.

Clara virou-se e viu um rapaz de olhar gentil.

— Você deixou isso aqui?

— Sim, há um tempo — ele sorriu. — Costumo espalhar mensagens pelos livros.

Houve um instante de silêncio curioso antes de ele perguntar:

— Aceita um café? Posso contar-lhe sobre outras mensagens que deixei por aí.

Clara guardou o bilhete no bolso e sorriu.

— Adoraria.

E assim, talvez, aquele Dia dos Namorados fosse diferente.


O delicado equilíbrio do amor

Daniela Purificação

Não podemos estar iludidos ao ponto de achar que o amor é um mar de rosas, perfeito e sem dificuldades. Para haver amor é necessário existir um equilíbrio delicado entre a paixão, a amizade, o respeito e o compromisso, pois o amor é a base, mas não trabalha sozinho. Foi isso que afetou a Madalena e o Santiago: amavam-se, mas amar não era suficiente.

Conheceram-se na escola, no laboratório de química. Iam também muitas vezes para a biblioteca estudar e lanchavam juntos. Tinham muitos objetivos em comum, o que os aproximou ainda mais. O rapaz foi o primeiro a declarar os seus sentimentos e Madalena, como não sentia nada para além de uma bela amizade, lamentou-se.

Madalena era uma menina muito simpática e sorridente, e foi esse sorriso o culpado de Santiago se fascinar, de uma maneira inexplicável, por ela. Já Madalena apreciava muito a companhia de Santiago, pelo modo como a fazia rir constantemente e pelo doce coração que nele existia. Ele não desistiu facilmente e, com o tempo, ela deixou de resistir à tentação de Santiago, o que os tornou num belo casal.

No início da sua relação, Madalena sentia-se numa história de um livro de romance, estava genuinamente feliz por finalmente encontrar um homem que a tratava como uma princesa delicada. Contudo, quando a relação já era duradoura, Madalena era bastante insegura consigo mesma, e o seu maior receio era perder o companheiro, pois sentia que ele estava, de alguma forma, distante. Deste modo, começou a despertar nela uma avalanche de ciúmes incontroláveis, o que a levou a proibir totalmente a liberdade de Santiago, gerando diversos desentendimentos entre o casal. A partir daí, os seus dias resumiam-se a conflitos, pois mesmo com as proibições de Madalena, Santiago mentia à namorada para evitar ainda mais confusões, o que originou mais adversidades.

Mais tarde, o casal, já exausto, decidiu parar de lutar pelo seu amor, pois embora se amassem incondicionalmente, a cada dia que passava, mais insuportável aquela relação se tornava. Combinaram que, antes de tentar amar alguém, teriam de se amar a si próprios, pois é fundamental mergulhar na própria essência, entender as suas próprias sombras e luzes, para que o amor oferecido seja uma escolha livre.


O mar de Âncora

Tiago Garceis

Âncora Praia era um lugar calmo, onde o mar contava histórias a quem o quisesse ouvir. Laura chegou ali à procura de inspiração para o seu livro, mas encontrou algo mais: Miguel, um pescador que passava os dias entre as rochas, lendo e escrevendo.

Ela começou a observá-lo à distância, até que um dia se aproximou. “Posso sentar-me?” perguntou, com um sorriso tímido. Ele acenou e, sem palavras, o silêncio entre os dois foi suficiente para dar início a uma conversa que duraria o verão inteiro.

Miguel, com os olhos mergulhados no mar, falou-lhe do amor que sentia pelas ondas e pela poesia que ele mesmo criava, mas que nunca mostrava a ninguém. “O mar é o meu maior amor”, dizia ele, “e nunca o deixarei.”

Laura sentia que algo profundo crescia entre eles. Mas, como o mar, a vida era feita de ciclos, e o verão estava a acabar. No último dia, ela disse-lhe, com a voz quase quebrada: “Eu tenho que ir.”

Miguel sorriu, sereno. “O mar volta sempre. E tu, quando voltares, as palavras estarão à tua espera.”

Ela partiu, mas o amor que viveram ficou gravado nas suas páginas, e sempre que o mar sussurrava ao ouvido, Laura sentia que ele ainda estava lá, à espera dela.


O pedido de desculpas que esperava ter recebido

Inês Esteves

Era sempre assim: eu imaginava a cena em mil versões diferentes, como quem repassa um sonho impossível. Ele chegaria à minha porta, com os olhos baixos, as mãos nervosas, e diria aquilo que eu esperei ouvir durante tanto tempo: “Desculpa. Por tudo. Sou um idiota que está completamente perdido e confuso, eu amo-te.”

Eram estas as simples palavras que eu esperava ter ouvido naquele dia, depois do que me fizeste. Esperei durante tanto tempo que acho que a espera se tornou exaustiva. Pergunto-me sempre o “porquê?” das tuas atitudes para comigo, já que dizias que me amavas. Como é que alguém que ama pode ser tão indiferente, tão cruel? Esperei, com uma teimosia que hoje me parece patética, que te levantasses do teu trono de orgulho e viesses dizer-me o que sempre quis ouvir: que lamentavas. Mas o tempo passou, e eu continuei a viver. A espera transformou-se em silêncio, o silêncio em aceitação. Ainda assim, uma parte de mim insiste em revisitar o passado, em tentar entender as tuas razões, mesmo sabendo que talvez nunca as saberei.

Há noites em que o teu nome ecoa nos meus pensamentos como uma melodia antiga que não consigo esquecer. Pergunto-me se tu também pensas em mim, se algum dia a culpa te apertou o peito, ou se seguiste em frente como se eu nunca tivesse existido. Hoje, ao escrever estas palavras, percebo que o pedido de desculpas que eu esperava ter recebido não era apenas sobre ti. Era sobre mim. Sobre o desejo desesperado de acreditar que o que vivemos significou algo para ti, que eu não fui só mais uma página que arrancaste sem ler. E talvez, no fundo, nunca vá receber esse pedido. Talvez o verdadeiro pedido de desculpas precise de vir de mim mesma, pela forma como deixei que as tuas escolhas definissem a minha dor.

Assim, enquanto termino de escrever, sinto que algo dentro de mim se liberta. Não porque te perdoei, mas porque percebi que já não preciso do teu perdão para seguir em frente.


O presente perfeito

Miguel Lameira

João passou semanas a pensar no presente ideal para Clara. Não queria algo clichê, como flores ou chocolates. Queria algo especial, algo que mostrasse o quanto a conhecia.

Na manhã do Dia dos Namorados, Clara acordou com um bilhete ao lado da cama:

“Hoje, o presente será uma jornada. Segue as pistas.”

Curiosa, encontrou a primeira pista presa à chávena de café:

“Onde é que as palavras ganham vida e o tempo para?”

Sem pensar duas vezes, foi até à livraria onde costumavam passar horas juntos. Lá, encontrou um pequeno pacote com outro bilhete:

“Onde é que o mar encontra a cidade e os ventos contam segredos?”

Clara sorriu e correu até ao miradouro favorito do casal, onde tantas vezes haviam assistido ao pôr do sol. Ali, encontrou João, que segurava um velho caderno de capa de couro.

— Feliz Dia dos Namorados! — disse ele, entregando-lhe o caderno.

Dentro, estavam registadas as primeiras mensagens que trocaram, fotos de momentos especiais e até pequenas cartas que ele escrevera ao longo dos anos.

Clara o abraçou-o forte, e disse:

— Este é o presente perfeito, João.

E ali, sobre o céu dourado do fim de tarde, ela soube que o amor era, acima de tudo, feito de pequenos gestos e grandes memórias.


O último beijo

Eliana Alves

Era o dia 14 de fevereiro, o Dia dos Namorados, e o café estava cheio de corações vermelhos e flores, decorado para celebrar o amor. Mas, para mim, ali, naquele ambiente alegre, tudo parecia vazio. Eu olhava para a mesa onde sempre nos sentávamos, onde os nossos olhos se encontraram pela primeira vez, onde o riso surgia sem esforço. Agora, tudo isso parecia distante, como uma lembrança de algo que já não existia.

Esperava por ti, como sempre, mas hoje sentia uma ansiedade estranha no peito. Sabia que o que ia acontecer ali não era um encontro romântico, mas um fim silencioso.

Quando entraste, a porta fez o som habitual, mas o teu sorriso, que antes tinha o poder de iluminar a minha alma, estava ausente. Sentaste-te à minha frente e olhamos um para o outro, sem saber o que dizer. Eu queria perguntar-te como estavas, mas as palavras pareciam fúnebres, como se já soubesses a resposta antes de eu fazer a pergunta.

— Então… — Comecei, tentando encontrar o tom certo. — Como tem sido?

Tu olhaste para o café, depois para mim, e respiraste fundo. Sabia que algo estava a mudar, mas queria acreditar que ainda havia algo ali.

— Tenho andado… a pensar muito. Não é fácil, sabes? — A tua voz estava tranquila, mas as palavras que se seguiram pareciam pesar mais do que deveriam.

A dor no meu peito aumentava, mas eu mantive a calma. Era como se estivesse a ver um filme, e soubesse que o final já estava escrito.

— O que aconteceu, amor? — Perguntei, já com a voz trémula, como se a última esperança que me restava fosse essa. O amor que perdurava no nome, mas não nos gestos.

Tu olhaste-me diretamente nos olhos, e eu percebi a verdade, sem que precisasses de dizer mais nada.

— Acho que… já não somos os mesmos. O que sentimos mudou. Não sei quando começou, mas agora… já não há mais chama. — Fizeste uma pausa, como se as palavras se estivessem a formar lentamente.

— E eu não posso continuar a fingir que tudo está bem.

Eu queria responder, mas algo me impedia. O silêncio entre nós era mais pesado do que qualquer palavra poderia ser. No fundo, sabia que já não havia mais espaço para o que fomos. O amor, aquele que vivemos, tinha-se transformado em algo indefinido, perdido nas interjeições e nos olhares vazios.

— Eu sei que não posso pedir para voltar atrás — disse eu, quase num sussurro. — Mas… e o que fazemos agora? O que resta de nós?

Tu olhaste-me, hesitante, como se estivesses a decidir algo muito difícil. Então, pegaste na minha mão, mas a forma como o fizeste não tinha a ternura de antes, era apenas um gesto vazio de despedida.

— Agora, seguimos os nossos caminhos. O amor que tinha o poder de mudar tudo, agora já não existe. E isso é o mais doloroso, porque talvez o amor tenha acabado antes de sequer o percebermos.

Senti um nó na garganta e uma lágrima a escorrer sem que pudesse impedi-lo. Mas não disse nada. Não havia palavras que pudesses oferecer-me que curassem aquela ferida. O amor transformou-se em desamor, e era algo que ambos sabíamos que não conseguíamos salvar.

Antes de te ires, fizeste uma última tentativa de nos mantermos unidos, mas era tarde demais. Quando te levantaste para sair, hesitaste, olhaste-me uma última vez e, antes de sair, sussurraste:

— O último beijo não é o mais doce, mas foi importante.

E então, sem mais palavras, saíste. Eu fiquei ali, no café decorado para o amor, sentindo que a última coisa que nos restava era o silêncio. O amor que prometia durar para sempre tinha desaparecido, e o desamor abraçava-nos sem misericórdia.

Agora, o que restava era um vazio, e a certeza de que o Dia dos Namorados, para nós, nunca mais seria o mesmo.


O último bilhete

Pedro Sousa

O Dia dos Namorados sempre foi uma ocasião significativa para Alice e Miguel, sendo que, desde o início do relacionamento, costumavam trocar cartas cheias de promessas, memórias e aspirações conjuntas. Com o passar do tempo, a rotina foi-se instalando, mas esse pequeno costume nunca foi abandonado.

No entanto, num ano, tudo parecia diferente, pois Alice notava o seu companheiro mais afastado, visto que as suas respostas eram breves e o seu olhar estava distante. Ela tentava ignorar a sensação de angústia, mas não conseguia evitar pensar se tudo isso não seria um sinal do fim do relacionamento, achando mesmo que nem uma carta iria receber da sua parte, naquele dia especial.

No dia 14 de fevereiro, ela voltou para casa e encontrou um envelope sobre a mesa. Com as mãos a tremer, abriu a carta, na qual, sob o título de “O último bilhete”, estava escrito:

“Minha Alice,
Estou ciente de que percebeste a minha distância. Não te pretendia deixar preocupada, mas precisei de um tempo para organizar algo especial. Tu sempre foste a minha casa e a minha luz nas horas difíceis e, por isso, queria que este Dia dos Namorados fosse memorável.
Hoje, no café, onde nos encontramos pela primeira vez, às oito da noite, estarei à tua espera para darmos continuidade à nossa história de uma forma ainda mais bela.
Com todo o meu amor,
Miguel”

As lágrimas escorregaram pelo rosto de Alice. O seu coração, que tinha estado agitado durante semanas, agora batia rapidamente de emoção, como se dançasse uma melodia que só ele conhecia.

Naquela noite, entusiasmada, dirigiu-se ao café onde tudo tinha começado e deparou-se com Miguel, a segurar, com um olhar repleto de amor, um pequeno anel.

O último bilhete não significava um fim, mas sim um convite para um novo começo.


Onda após onda

Ana Rodrigues

Sofia sempre gostou do mar. Não apenas pelo azul infinito ou pelo cheiro salgado que ficava na pele, mas pela forma como as ondas vinham e iam, como se sussurrassem segredos que só o tempo entendia.

A primeira vez que amou, tinha apenas 14 anos. Foi como mergulhar pela primeira vez — o coração acelerado, a promessa de algo eterno, a ilusão de que algumas coisas nunca mudam. Mas mudou. A onda que parecia suave virou tempestade, e Sofia ficou na areia, a olhar para o horizonte, perguntando-se como tudo desaparecera tão depressa.

No verão seguinte, aconteceu outra vez. Mas dessa vez, ela não mergulhou de cabeça. Molhou apenas os pés, deixou que a água tocasse a pele sem a levar por completo. E mesmo assim, quando a onda se foi, deixou um arrepio frio. Uma ferida que ela não queria, mas que também não podia evitar.

O tempo passou. Ela voltou a acreditar que, talvez, dessa vez fosse diferente. Que aquele rapaz, com o sorriso fácil e as palavras certas, não seria apenas mais uma onda. Que, finalmente, o mar a deixaria ficar. Mas não. Mais uma vez, a água recuou e Sofia ficou ali, sozinha, sentindo o vazio que a espuma deixava para trás.

E agora?

Talvez fosse dela, pensava. Talvez fosse o mar. Talvez fosse apenas a vida, a ensinar-lhe que algumas ondas são feitas para passar, não para ficar.

Mas, então, Sofia olhou para o oceano mais uma vez. As ondas iam e vinham, mas o mar nunca deixava de ser mar.

E ela também nunca deixaria de ser ela.


Pétalas do primeiro amor

Bia Ferreira

Era verão, e o sol pintava o céu com tons de laranja, enquanto Sofia e João pedalavam pelas ruas da pequena vila. Tinham 16 anos e partilhavam tudo: segredos, risos e sonhos.

Naquela tarde, pararam junto ao rio. João, com os olhos azuis como o mar, tirou um pequeno frasco do bolso, cheio de pétalas de flores.

— Para nós, Sofia. Cada pétala é uma promessa.

Ela sorriu, emocionada, enquanto ele lhe dava o frasco. O mundo parecia suspenso, só eles existiam naquele momento. João pegou na mão dela, prometendo nunca deixar de ser o seu porto seguro e prometeu também construir uma família e serem sempre felizes juntos!

O tempo passou depressa naquele verão, mas as memórias ficaram gravadas. Aquele frasco ainda repousa na estante de Sofia, lembrando-a que o primeiro amor é eterno no coração.

Os anos passaram, e Sofia cresceu, mas nunca esqueceu João e aquele verão que mudou tudo. Sempre que a vida parecia pesar, pegava no pequeno frasco de pétalas e sentia-se transportada de volta àquele rio, àquele céu laranja e ao calor do primeiro amor.

Um dia, numa tarde de inverno, enquanto passeava pelas ruas da vila, o som de uma mota chamou a sua atenção. Era o João. Os olhos dele ainda brilhavam como o mar, e o sorriso era o mesmo, iluminado.

— Ainda guardas o frasco? — perguntou ele, tímido.

Sofia sorriu, tirando-o da mochila.

— Sempre.

João desceu da mota e aproximou-se, segurando a mão dela como fazia antes.

— E as promessas?

— Nunca deixaram de ser reais — respondeu Sofia.

Debaixo do céu cinzento, fizeram uma nova promessa: que, desta vez, nunca mais deixariam o tempo separá-los e iriam ficar juntos e felizes para sempre!

E assim foi, passaram-se anos e João e Sofia estão juntos e já com um filho e uma casa enorme!

Nunca deixem que a distância e o tempo os separem de quem mais amam!

“Love is the only thing that’s worth everything, no matter how hard it gets.” – Chris Hemsworth