Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025
E se todos os satélites artificiais desaparecessem subitamente?
Tecnologia | 30-04-2025
Num mundo que depende da eletricidade e da tecnologia, o que aconteceria se um dia todos os satélites artificiais da humanidade desaparecessem subitamente?
Se todos os satélites artificiais da humanidade desaparecessem de repente, em poucas horas, a maior parte do tráfego do planeta paralisaria, a economia mundial entraria em colapso e a maioria dos países declarariam um estado de emergência. Mesmo no melhor dos cenários, a nossa civilização sofreria um atraso de décadas. Quais são as hipóteses de isto acontecer? Moriba Jah explica.
E se todos os satélites artificiais desaparecessem subitamente?
Um dia, sem aviso ou sem causa aparente, todos os satélites artificiais da humanidade desapareceram de repente.
Os primeiros a perceber a situação foram alguns governos e operadores comerciais. Mas muito antes de compreenderem o que tinha acontecido, milhões de pessoas sentadas nos seus sofás perceberam que havia algo de errado. A TV que é transmitida ou encaminhada por satélites dominava o mercado da programação internacional assim como de alguns canais locais, por isso o desaparecimento causou problemas imediatos, a nível mundial.
As pessoas que foram afetadas a seguir foram as que estavam a viajar, por ar, por mar, ou por terra, quando os serviços de posicionamento global, de orientação e de sincronização acabaram totalmente. Pilotos, capitães e motoristas tiveram de determinar a sua localização usando instrumentos análogos e mapas. A aviação, os navios, e os veículos terrestres pararam, imobilizaram-se ou voltaram ao porto. Os controladores do tráfego aéreo têm uma tarefa difícil nas mãos para impedir choques de aviões. Em poucas horas, a maior parte do tráfego do planeta paralisou.
Os efeitos não se limitaram aos entretenimentos e às viagens. Todo o tipo de máquinas, dos sistemas de aquecimento e de arrefecimento até às linhas de montagem, baseiam-se em sistemas sincronizados super rigorosos com base em satélites e muitos deles têm poucas ou nenhuma opções alternativas. Os semáforos e outros sistemas de controlo de trânsito deixaram de funcionar, por isso a polícia e o bons samaritanos avançaram para orientar os carros restantes e impedir acidentes, o melhor que puderem.
O impacto mais catastrófico ainda está para chegar. Porque, dentro de poucas horas, a economia mundial vai entrar em colapso. Os carimbos das horas com base em satélites desempenham um papel fundamental em tudo, desde os leitores de cartões de crédito e bolsas de valores aos sistemas que mantêm registo de transações. As pessoas deixam de poder levantar dinheiro ou fazer pagamentos eletrónicos. A logística e as cadeias de abastecimento para bens vitais, como alimentos e medicamentos, fragmentam-se, deixando as pessoas a sobreviverem com o que existe localmente. A maioria dos países declara o estado de emergência e chama os militares para repor a ordem.
Isto pode demorar algum tempo. A maioria dos sistemas de orientação e de comunicação deixa de estar operacional, por isso, as cadeias de comando podem estar desorientadas. Muitas tropas, incluindo as que estão colocadas ativamente, têm de funcionar com os seus aparelhos. Os comandantes dos submarinos nucleares e os centros de controlo de mísseis procuram saber se o problema é resultado de um ataque hostil. Que tipo de decisões podem fazer com informações parciais?
Mesmo no melhor dos cenários, a nossa civilização recua décadas, na melhor das hipóteses. Isso porque, apesar de ser um fenómeno relativamente novo, os satélites substituíram rapidamente as tecnologias de longo alcance mais tradicionais. A combinação do posicionamento global e da internet permitiu sinais quase instantâneos que podem ser sincronizados a nível mundial. Muitos sistemas que usamos todos os dias foram criados nesta base. Voltar aos sistemas de comunicação de meados do século XX não é uma questão simples. Em muitos casos, teriam de ser recriados a partir do zero.
Embora seja improvável o desaparecimento súbito deste exercício intelectual, há dois cenários muito reais que podem provocar os mesmos resultados. O primeiro é uma explosão solar tão forte que destrua os circuitos dos satélites e os de muitos outros aparelhos e de redes de energia mundiais. O segundo é uma reação em cadeia de colisões orbitais. Com cerca de 7500 toneladas métricas de veículos espaciais defuntos e de equipamentos obsoletos a orbitar o nosso planeta a velocidades relativas a mais de 56 000 km/hora, até pequenos objetos podem ser altamente destrutivos. Uma simples colisão no espaço pode criar milhares de novas peças de detritos, provocando uma reação em cadeia. O espaço é enorme, mas muitos dos milhares de satélites atualmente em órbita partilham da mesma rota orbital para os seus objetivos específicos. Como a maioria dos objetos enviados para o espaço não é concebido com a preocupação da sua eliminação, essas rotas vão ficando mais congestionadas com o tempo.
Felizmente, podemos proteger-nos estudando o nosso sistema solar, criando opções de reserva para as nossa redes de satélites, e cooperando para evitar uma tragédia orbital. Os quilómetros de espaço por cima das nossas cabeças são como as nossas florestas, a biodiversidade do oceano e o ar puro. Se não os tratarmos como um recurso finito, podemos acordar um dia e descobrir que eles já não existem.
Fonte: TED-ED
“Any sufficiently advanced technology is indistinguishable from magic.” – Arthur C. Clarke