Escola Ciência EFP Ensino Concursos Opinião Livros PLNM Família Mais

Click

Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025


Camões e a importância da arte como direito humano

Inês Eiras, 10.º B | 17-06-2025

O desafio que nos foi proposto consistiu em fazer um trabalho de reconhecimento dos Direitos Humanos, consagrados em 1948, e, associando-os às “Reflexões do Poeta” em Os Lusíadas, perceber que são preocupações universais e intemporais.

Ilustração: Jean Galvão

Na obra Os Lusíadas, Luís de Camões apresenta diversas reflexões. Uma delas diz respeito à relação dos portugueses para com a arte e a literatura, evidenciando um desprezo que reflete um pensamento demasiado pragmático e, ao mesmo tempo, uma visão distorcida do valor cultural.

Essa postura pode estar associada ao direito à propriedade, uma vez que a valorização da posse material muitas vezes se sobrepõe à propriedade intelectual, ao reconhecimento da arte como património cultural da sociedade.

O desprezo pela arte demonstra que os portugueses priorizavam conquistas bélicas, como por exemplo os descobrimentos e as viagens de Vasco da Gama:

Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o céu e a terra espanta.

Assim desvalorizando a cultura e colocando manifestações artísticas em planos secundários, como simples expressões sem qualquer utilidade.

Isto prolonga-se até aos dias de hoje e pode ser observado, por exemplo, no declínio que houve no investimento de eventos culturais tradicionais, como festivais, feiras de arte e atividades culturais comunitárias.

Este desprezo pode ser interpretado como uma negação de que a arte é um direito humano fundamental, pois é ela que promove a criatividade, a inovação e o desenvolvimento cultural. Desta forma, Camões evidencia que a visão que os portugueses têm do mundo daquela época, ao desprezar a arte, também reflete uma forma de exclusão, onde o direito de todos ao acesso à cultura é negligenciado. Pois, se não houver apoio e reconhecimento dos artistas, eles vão acabar por deixar de querer lutar pelos seus próprios feitos, fazendo com que Portugal se torne ignorante. Isto porque, sem a literatura e as outras formas de arte, não seria possível conhecer o que nos rodeia e o porquê de ser assim.

Logo, a reflexão camoniana revela que o desprezo pela arte não é apenas uma questão estética. Dar valor à arte enquanto direito humano implica saber a sua importância na formação da nossa identidade . Portanto, a postura dos portugueses em Os Lusíadas serve como um alerta sobre os perigos de subestimar a importância da cultura e da arte que nos rodeia.

“Quem não sabe a arte, não a estima.” – Luís de Camões