Jornal Escolar AE Muralhas do Minho | 2024-2025
A queda do Quinto Império
Martim Soares e Diogo Lobato, 12.º A | 12-02-2025
“O dos Castelos” é o primeiro poema da primeira parte da obra Mensagem de Fernando Pessoa. Neste poema, a Europa é personificada como uma mulher deitada, com partes do seu corpo correspondendo simbolicamente a regiões influentes do continente. O poema associa a localização de Portugal ao rosto da figura feminina, destacando-se como o ponto de origem do pensamento, da visão e da liderança no contexto europeu.
O poema de Filipa Leal faz uma crítica à Europa, representada como uma figura envelhecida e desinteressada, mais focada em questões financeiras do que nas necessidades das pessoas. O eu lírico expressa frustração com a indiferença dos líderes europeus, que ignoram a fome, o cansaço e o medo das populações. Filipa Leal denuncia o abandono e a falta de cuidado, pedindo que a Europa volte a ser mais humana e atenta ao sofrimento dos seus “filhos”. O poema reflete uma sensação de desilusão, mas também de resistência pacífica, ao mostrar que, apesar de tudo, o povo ainda quer responder sem violência.
Na época de Fernando Pessoa, a Europa passava por um período de instabilidade política, económica e social, marcado em especial pela Primeira Guerra Mundial, governos instáveis que davam lugar a regimes autoritários. Também a nível económico se deu uma grave crise com o cenário do pós guerra e as repercussões da Grande Depressão.
Em Portugal, a instabilidade política e económica conduziu ao golpe militar de 1926 e à ascensão de Salazar ao poder. Estes fatores levaram Portugal a um período de extrema desigualdade entre as classes sociais, onde que se verificou que as classes mais baixas enfrentaram fortes dificuldades nas áreas da saúde, educação, liberdade e trabalho.
Atualmente, a Europa encontra-se num período muito mais estável e seguro. Apesar do crescimento de algumas tensões, os seus cidadãos podem usufruir de um melhor acesso às áreas anteriormente mencionadas. Também a nível económico nos encontramo num melhor período, em que as classes mais baixas não passam tantas necessidades como há cem anos atrás. Apesar disto, ainda existem várias desigualdades e novos problemas a solucionar, até se alcançar uma sociedade verdadeiramente justa e segura para todos.
No que toca às expetativas para o futuro da Europa, no poema de Filipa Leal é representado o sentimento de frustração e desilusão de uma geração que perdeu a confiança nas instituições: “[...] tu roubaste-me o futuro e o dos meus irmãos”. Também é evidenciada a necessidade de uma mudança imediata, que permita que a população viva uma vida segura e mais confortável. É feita também uma crítica em como a economia e o seu crescimento é o único foco dos governos e não os “filhos” da Europa, os seus cidadãos.
Para Pessoa, o futuro de Portugal era muito promissor. Ele acreditava que este se iria tornar no Quinto Império do mundo recorrendo à sua cultura (em especial a literatura) para estender a sua influência para lá do continente. De uma forma mais ampla, a Europa e os seus países deveriam avançar para novos caminhos e ideias, tendo sempre em conta os seus feitos passados e a sua importância para alcançar mais conquistas no futuro.
Em conclusão, ambos os poemas concordam que a Europa precisa de se renovar de uma forma ou de outra. Para Fernando Pessoa, isso envolve continuar os feitos do passado e alcançar novas proezas com base na literatura e na cultura. Para Filipa Leal, a Europa deve tratar de devolver aos seus cidadãos o protagonismo, seja com a implementação de novas medidas ou sistemas ou com uma maior mudança política, sempre com o objetivo de construir um futuro baseado em valores humanos e coletivos.
“Senhor, falta cumprir-se Portugal!” – Fernando Pessoa, Mensagem